Uma pesquisa desenvolvida no Laboratório de Sono e Ritmos Biológicos da Universidade Federal do Ceará (UFC), vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas, investigou as alterações na duração do sono e a sonolência diurna excessiva (SDE) em adolescentes de Fortaleza. Na adolescência, quando mudanças biológicas próprias da idade se associam a outras, de natureza comportamental e ambiental, costumam alterar o padrão de sono dos jovens.
O estudo integra a dissertação de mestrado defendida por Felipe Rocha Alves, sob orientação do Prof. Pedro Felipe de Bruin. O artigo referente à pesquisa foi aceito para publicação na Sleep Medicine, periódico científico oficial da Sociedade Mundial de Sono (World Sleep Society) e da Associação Pediátrica Internacional de Sono (International Pediatric Sleep Association), devendo ser publicado em breve.
Os resultados são preocupantes. Quase 55% dos adolescentes têm sono insuficiente, e em torno de 48% relataram sonolência diurna excessiva. A análise mostrou que os estudantes do período da manhã, da noite e do tempo integral tendem a dormir menos do que os da tarde. De acordo com o autor da dissertação, Felipe Alves, a redução da duração do sono pode trazer problemas para os adolescentes. “Diminui o estado de alerta, aumentando a sonolência diurna excessiva, consequentemente, podendo prejudicar o rendimento acadêmico dos jovens e ainda contribuir para o desenvolvimento de diversos problemas de saúde”, enumera o pesquisador, que atualmente segue no desenvolvimento da pesquisa no doutorado em Ciências Médicas, também na UFC.
Uma das explicações para esse cenário é um fenômeno fisiológico que acontece na puberdade: o atraso normal da fase sono. “O adolescente tende a dormir um pouco mais tarde e a acordar um pouco mais tarde do que a criança”, explica Bruin. Além disso, segundo o professor, o tempo de sono considerado normal em indivíduos na faixa etária de 14 a 17 anos varia de oito a 10 horas. Acontece que, em geral, no Brasil o início das aulas no período da manhã começa cedo, por volta das 7h, 7h30min. “É muito relevante essa discussão sobre o horário de início das aulas, principalmente para essa população. É importante dizer isso, porque envolve outros grupos de pesquisa da instituição e outros profissionais, particularmente da área de educação. O horário de início das aulas no Brasil está na contramão do resto do mundo”, alerta.
Segundo Bruin, há ações e estudos recentes pelo mundo comprovando a necessidade de se fazer mudanças no horário escolar. “Tem um estudo realizado em Cingapura, publicado recentemente, em que eles atrasaram 45 minutos o início das aulas, de 7h30min pra 8h15min, e se verificou uma redução da sonolência, uma melhora do bem-estar e do rendimento dos estudantes”, cita. O professor mostra-se ainda preocupado com a escola de tempo integral, pois, além de os alunos acordarem cedo, não encontram espaço para um pequeno cochilo após o almoço, por conta até mesmo da falta de estrutura física dos colégios. Esse grupo, inclusive, relatou maior SDE (57,6%). Soma-se a esse quadro a situação ainda mais vulnerável dos jovens que trabalham (emprego propriamente dito e estágios), grupo no qual o sono de baixa duração foi mais frequente em relação aos que não trabalhavam: 63% contra 53,1%.

Outros fatores
O professor observa também o menor tempo de sono dos jovens do terceiro ano do ensino médio em relação aos estudantes do primeiro ano. “Existem várias hipóteses para isso. Uma delas pode ser a pressão para os exames de ingresso na universidade. Isso merece um estudo futuro”, pondera.
Outros fatores ligados tanto à baixa duração do sono quanto à sonolência incluem uma série de hábitos que potencialmente podem contribuir para um sono de má qualidade, como o chamado tempo de tela: o uso excessivo de mídias eletrônicas, a exemplo de TV e celular. A pesquisa mostrou tempo insuficiente de sono mais reportado entre aqueles jovens que usavam telefone celular antes de dormir em comparação aos que negaram essa prática (56,3% contra 49,7%).
A duração do sono foi avaliada por autorrelato. Fatores sociodemográficos (como sexo, idade, série, turno escolar e trabalho) e comportamentais (como atividade física, uso do celular antes de dormir e tempo assistindo à TV) foram investigados por questionário específico. O grau de sonolência diurna foi avaliado pela Escala de Sonolência de Epworth. “É interessante, nesse estudo, que os fatores estatisticamente relacionados com baixa duração do sono são praticamente os mesmos dos relacionados à sonolência. Como foi uma pesquisa transversal, e não longitudinal, a gente não pode falar de causa e efeito. Mas é relevante essa relação”, explica Bruin.

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