A instalação dos parques eólicos e solares no Estado impactou diretamente no desmatamento (Foto: Acervo/Projeto Convert)

Rio Grande do Norte foi o estado nordestino com maior desmatamento

Apoie o Nossa Ciência. Faça um pix para contato@nossaciencia.com

Tudo na vida tem um preço! Esta é uma frase, aparentemente, muito clichê, mas é uma maneira simplificada de traduzir os benefícios e, principalmente, os impactos ambientais negativos da expansão dos parques de energias renováveis no interior do Nordeste brasileiro. Embora, as energias renováveis sejam consideradas fontes energéticas limpas, os impactos sociais e ambientais decorrentes desses empreendimentos podem atingir grandes dimensões.

O desmatamento da vegetação nativa é o principal impacto ambiental causado pelos projetos de energias renováveis, seja eólica e/ou solar. a situação é ainda mais agrada quando os empreendimentos são instalados em áreas de vegetação caatinga, um bioma exclusivo da região Nordeste do Brasil. Durantes décadas, esse bioma tem sofrido os efeitos da ação antrópica, em que a vegetação é substituída por áreas de cultivos anuais.

É importante ressaltar que, a Caatinga ocupa cerca de 11% do território nacional e, representa 80% da região Nordeste. Adicionalmente, considerando a importância deste bioma no combate às mudanças climáticas, um estudo, realizado em 2020, revelou que, apesar dos desafios, a vegetação caatinga é a floresta mais eficiente no consumo de carbono, sequestrando mais de 3 toneladas por hectare, mesmo em períodos de secas extremas. Por outro lado, somente entre 2002 e 2023, o desmatamento do bioma Caatinga aumentou em 43,4% e, ainda, de 2019 para 2023, foram desmatados 201.687 hectares, segundo dados do Relatório Anual de Desmatamento – RAD do MapBiomas, 2023.

Aquecimento global

Ainda em relação ao RAD (2023), pode-se verificar que da área total desmatada na caatinga, 4.302 hectares tiveram como vetor os empreendimentos de energia renovável (solar e eólicas). Logo, pode-se inferir que esta atividade, apesar do reconhecido progresso econômico, pode ser uma ameaça ao bioma já vulnerável às ações do homem, agravando-se a degradação ambiental no semiárido e, consequentemente, contribuindo para o aquecimento global.

No Nordeste, um dos estados que mais desmatou nos últimos anos foi o Rio Grande do Norte. De acordo com o infográfico do MapBiomas, foram mais de 9 mil hectares desmatadas de 2002 para 2023, considerando todas as atividades. A instalação dos parques eólicos e solares é o segundo maior vetor de desmatamento no Rio Grande do Norte, sendo responsável por 1.369 hectares de área desmatada somente em 2023, um aumento de 161% em relação a 2022. Os maiores desmatamentos decorrente das instalações de empreendimentos de energias renováveis ocorreram nos municípios Lajes, Santana do Matos, Caiçara do Rio dos Ventos, São Miguel do Gostoso, Pedro Avelino e Bodó, sendo registrado áreas desmatas de aproximadamente 290, 280, 190, 140, 130 e 100 hectares, respectivamente.

É importante ressaltar que a geração de energia renovável e limpa foi responsável pela destruição de mais de mil hectares por ano da vegetação do nosso bioma Caatinga. Adicionalmente, há vários estudos que indicam os impactos que as eólicas podem causar à saúde e bem vivem das familiar que residem próximos às localidades receptoras desses empreendimentos.

O desmatamento destruiu a cobertura florestal e afeta o clima local, contribuindo com a desertificação de grandes áreas, sendo considerada umas das principais ações antrópicas das mudanças climáticas globais. Os solos desnudos perdem a sua capacidade de armazenar água, reduz a biodiversidade, a fertilidade natural e, estão susceptíveis ao processo de erosão. Os impactos dos empreendimentos eólicos e solares estão apenas agravando ou acelerando os problemas ambientais, historicamente, registrados no Nordeste brasileiro e, essas mudanças climáticas afetarão não só o ciclo das chuvas e o aumento da temperatura média global, mas também o ambiente e as condições de vida locais. É um desastre anunciado.

Fonte dos gráficos usados nesta matéria: MapBiomas | RAD 2023 | Dados por Estados Atualizado

Se você chegou até aqui, considere apoiar apoiar o Nossa Ciência. Faça um pix para 23699779000180

Leia o texto anterior: Impacto dos parques eólicos na saúde humana

Nildo da Silva Dias é Professor Titular da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa). Francisco Cleiton da Silva Paiva é Advogado, Servidor Público na Ufersa e Doutorando pelo Programa de Doutorado em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA/UFERSA).