Nordeste é responsável por 95,5% da produção nacional (Foto: Nildo Dias)

Em alguns meses, RN exporta mais melão do que petróleo

A cultura do meloeiro (Cucumis melo L.) é economicamente e socialmente relevante para o Brasil, com destaque para o Nordeste, responsável por 95,5% da produção nacional, principalmente nos estados do Rio Grande do Norte e Ceará. O melão é rico em minerais e vitaminas, com propriedades medicinais e grande valor no mercado internacional, sendo exportado principalmente para a Europa. A produção no semiárido nordestino é favorecida por condições climáticas ideais, permitindo até três safras anuais. O sucesso da cultura, contudo, depende de manejo adequado, especialmente em relação à salinidade da água usada na irrigação.

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A cultura do meloeiro (Cucumis melo L.) é uma olerícola de grande relevância econômica e social para o Brasil e o mundo, sendo a fruta consumida em larga escala em vários países da Europa, no Japão e no Estados Unidos. É um espécime com elevado conteúdo de sais minerais como potássio, sódio e fósforo, e também rico em vitaminas A, B, B2, B5 e C.

A polpa do melão tem baixo valor energético, podendo ser consumido in natura ou na forma de suco e os frutos, quando maduros, têm propriedades medicinais, funcionando como calmante, refrescante, diurético e laxante.

Commodities

O melão é uma das commodities mais importantes para o Brasil para a fruticultura nacional. É uma cultura explorada em todas as regiões, no entanto, 95,5% da produção comercial é oriunda do Nordeste, destacando-se como os principais produtores nacionais os estados do Rio Grande do Norte (58,2%) e Ceará (14,7%).

Condições de clima e solo no RN favorecem a cultura da fruta (Foto: Nildo Dias)

Somente no primeiro trimestre de 2024, o RN exportou mais de 55,8 mil toneladas da fruta para o mercado internacional. O volume de negociações esteve na ordem de US$ 39,4 milhões. Esse montante representou 23% do total exportado pelo Rio Grande do Norte (RN) nos três primeiros meses de 2024, quando o valor acumulado alcançou 171,5 milhões de dólares.

As exportações ficaram 19,8% superior ao registrado no primeiro trimestre de 2023, de acordo com o Sebrae. Os principais destinos da exportação do produto são Espanha, Países Baixos e Reino Unido, seguidos pelo Canadá. Em alguns meses do ano, o melão chegou a superar a exportação do petróleo, principal produto de exportação do estado. Isso mostra o peso do melão para a economia do Rio Grande do Norte e para o país.

A fruta tem conquistado uma porção cada vez maior das exportações do setor agrícola no Brasil. Nos últimos anos, passou a se destacar entre as frutas com maior índice de exportação do país, ficando atrás apenas da manga.

Condições favoráveis

O sucesso da produção de melão no semiárido, no RN e no Ceará, deve-se às características do meio ambiente que se referem ao clima e ao solo. Tais condições edafoclimática são favoráveis, ao desenvolvimento da cultura quando irrigada, destacando-se: altas temperaturas médias (24 – 32 °C), precipitação pluvial concentrada nos quatro primeiros meses do ano (janeiro a abril), alta radiação solar e baixa umidade relativa do ar, variando entre 52% a 75%.

As condições climáticas, especialmente a distribuição de chuvas, permitem três safras anuais em condições irrigadas. É possível ter desenvolvimento pleno em todas as fases fenológicas da cultura, resultando em altos índices de colheitas condizente com as exigências comerciais do mercado externo.

Além do alto rendimento e qualidade dos frutos de melão, no semiárido, há possibilidade de colheitas na época de entressafra de outros países como na Espanha, o que pode garantir melhor relação custo benefícios da commodities e retorno econômicos aos produtores.

É importante ressaltar que os estados do RN e CE são privilegiados por serem a única área brasileira livre da mosca das cucurbitáceas (Anastrepha grandis), devido ao trabalho realizado em conjunto pelo Comitê Executivo Fitossanitário da região de Assu, Mossoró e Areia Branca (COEX) e União dos Agronegócios do Vale do Jaguaribe (Univale), SAPE (Secretaria de Agricultura, Pecuária e Pesca) e MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).

Apesar das condições climáticas favoráveis ao cultivo do meloeiro no semiárido, o sucesso da cultura depende, também, do manejo cultural adequado capaz de atenuar o estresse bióticos e abióticos, que são os principais desafios dos cultivos agrícolas para garantir bons índices de colheitas.

No contexto do semiárido, por exemplo, o cultivo do meloeiro exige o uso de estratégias de manejo de solo-água diferenciado, considerando que a maioria das fontes hídricas destinadas à irrigação e fertirrigação são salinas e salobras, restringindo o uso devido aos riscos de salinização e, consequentemente, os efeitos deletérios sobre as plantas devido o estresse osmótico.

Leia o texto anterior: Há urgência em ações para mitigação das mudanças climáticas

Nildo da Silva Dias é professor titular da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), Francisco Cleiton da Silva Paiva é advogado, servidor público e aluno de doutorado no Programa de Doutorado em Desenvolvimento e Meio Ambiente e Francisco Ismael de Souza é engenheiro agrônomo e representante técnico de vendas da Oxiquímica Agrociência.