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Fim do Qualis?

(Helinando Oliveira)

Já em clima de retrospectiva de 2024, vamos tratar de um assunto que abalou as estruturas de quem faz pós-graduação no Brasil: o fim do qualis.

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De acordo com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), o qualis periódicos é “um sistema usado para classificar a produção científica dos programas de pós-graduação no que se refere aos artigos publicados em periódicos científicos”. Esta ferramenta foi trabalhada ao longo dos anos para avaliar a produção das pós-graduações a partir da “análise de qualidade dos veículos de divulgação, ou seja, periódicos científicos”. Como a própria CAPES alerta, a função do QUALIS é “avaliar a produção científica dos programas de pós-graduação. Qualquer outro uso fora do âmbito de avaliação dos programas de pós-graduação não é de responsabilidade da CAPES.”

Entendendo a qualificação

Com a estratificação das revistas científicas em A, B e C, os programas de pós-graduação (que competem para atingir notas melhores a cada avaliação) tiveram uma medida clara do que precisavam fazer para subir de nível (entre conceitos 3 e 7) repassando as metas a seus pós-graduandos, por exemplo: “para titulação é exigido um artigo publicado em periódico qualis A”. E os estudantes buscavam na lista das revistas aquelas para as quais poderiam submeter e lograr êxito nos requisitos para a qualificação.

E aí surgiram os problemas: a classificação do qualis não seguia a dinâmica de criação de novas revistas e por vezes não coincidia com parâmetros como o fator de impacto de cada revista. Novamente há dois lados a se observar, pois ao mesmo tempo em que o processo permitia o avanço de periódicos nacionais, tenderia a limitar a tendência de publicação em grandes veículos internacionais, por comodismo dos autores.

Com isso, surgiram as primeiras críticas ao sistema qualis, que ao contrário do que o próprio nome preconizava, estava dando vez a uma ciência de mais quantidade que de qualidade. Essa prática, chamada de ciência salame seria a prática de fatiar uma descoberta no maior número de artigos científicos possíveis.

Quantidade X Qualidade

E com a ideia de que mais artigos ajudam as pós-graduações e os próprios pesquisadores, o qualis passou a influenciar não apenas a avaliação das pós-graduações, mas também o Lattes de cada um. A análise qualitativa das produções (individual e coletiva) não pode ser restrita apenas à publicação em uma lista, mas principalmente quanto ao impacto daquele trabalho na ciência mundial. Isso se refere ao fator de impacto do veículo e o número de citações que o artigo virá a ter com o tempo.

De forma geral, a mudança no qualis pode ser vista como sendo muito positiva, com vistas a uma avaliação que preze pela qualidade da ciência produzida no Brasil. Antes da quantidade, a qualidade. Isso não significa publicar menos, mas sim que cada um artigo publicado precisa ser tratado como algo impactante para a comunidade científica, como deve ser. Precisamos ter em mente a ideia de que o próximo artigo será o mais importante de nossa carreira. E isso faz toda a diferença.

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Helinando Oliveira é físico, professor titular da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e atualmente é vice presidente da Academia Pernambucana de Ciência