(Cellina Muniz)
Nesta sexta-feira (dia da semana regido por Vênus, de acordo com a Astrologia, o planeta regente de assuntos ligados ao sexo, ao amor, aos afetos e à beleza), 28 de março de 2025, faleceu a grande Heloisa (antes Buarque de Hollanda, depois Teixeira): professora, pesquisadora, poeta, ensaísta, feminista, integrante da Academia Brasileira de Letras.
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Uma mulher plural na sua singularidade, para dizer o mínimo. Nem me atrevo a tentar sumarizar as contribuições dessa grande mulher, das teorias feministas e estudos de gênero à crítica literária e os estudos sobre as práticas marginais e periféricas de autoria e editoria. Prefiro, antes, remeter leitoras e leitores à sua biografia “Onde é que eu estou? Heloisa Buarque de Hollanda 8.0”, lançado pela editora Bazar do Tempo em 2019 e ao documentário “O nascimento de H. Teixeira”, dirigido por Roberta Canuto, o qual aborda a mudança de sobrenome de Heloisa. Aos 84 anos, Heloisa decidiu abandonar o Buarque de Hollanda do ex-marido e assumir o Teixeira de sua mãe, realizando assim não só mais um gesto da sua típica ousadia, mas de coerência com sua trajetória de pensamento e de vida.
Esse gesto suscita muitas reflexões.
Afinal, qual o peso do nome/sobrenome que assina uma obra?
Podemos ir bem longe nessa discussão. Lá no diálogo “Crátilo”, de Platão, por exemplo, vemos Sócrates se indagando sobre o grau de relação entre o nome e o ser; Foucault também dedicou alguns momentos de suas aulas, conferências e ensaios à questão da autoria, em que frisa bem a não-equivalência (ou redução) entre a assinatura e a enunciação de um texto (verbal ou não, oral ou escrito).
Mais interessante por ora, no entanto, é compreender esse gesto da múltipla Helô como uma atitude de quem reconhece o eu mais como sendo do que como ser, uma identidade no constante movimento de se desfazer e se refazer, como se a cada fase de vida fosse uma nova pessoa.
Mais filha do que esposa, por exemplo.

Do já considerado clássico “26 Poetas Hoje”, marco da literatura marginal dos anos 70, ao “Blooks – books + blogs”, projeto pioneiro de mapeamento da literatura na esfera digital, do “Explosão Feminista” ao “Enter”, de professora emérita da UFRJ à empresária e editora da “Aeroplano”, de intelectual a administradora, as diferentes Heloisas pareciam carregar , num mesmo corpo, uma diversidade de facetas em movimento, cada experiência de si funcionando como uma maneira movente de ser e estar no mundo. O que, talvez, se expresse também pela frequência com que mudava de casa.
Mudou-se, mais uma vez, e sua partida não tem volta. Mas o seu legado permanece.
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