(Gláucio Brandão)
“Na era da IA, precisamos aprender a ‘domar’ o inconsciente para potencializar as tomadas de decisão!”. Essa foi nossa conclusão em Aumentando o poder do cérebro – Parte 1. Pari passu, finalizei prometendo ensinar meu método para conseguir isso, e é o que pretendo fazer nessa Aula Condensada (AC). Antes, porém, é necessário explicar como nosso mindset funciona. Acompanhe-me nessa viagem.
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O Tetris e a Inércia Psicológica
Na AC anterior, entendemos que cada camada de tecnologia é como uma peça que se encaixa, apaga o problema anterior, e as formas de resolvê-lo, mas empilha o conforto até bloquear o pensamento, nos tornando cada vez menos resolvedores, e observadores, função primordial base da criatividade. Assim, passamos de um consciente “limpo”(era pré-Internet), que conseguia demandar problemas-raiz para o inconsciente “resolvedor” de tudo, para um cérebro cujo consciente está abarrotado de informações ruidosas, blindando o que vinha de fora e dificultando as ordens que outrora chegavam limpas ao inconsciente, nosso melhor computador.

A superposição de informação, além de produzir a inércia psicológica (IP) por sobrecarrega, alimenta com mais coisas dispensáveis do que úteis o nosso sistema de decisão. Como, então, podemos resolver o imbróglio: manter a mente aberta à informação, necessário para nossa evolução e resolução de problemas, e, ao mesmo tempo, conseguir filtrar o que nos interessa? Vamos às alternativas.
Dois caminhos
Em Pensando dentro da Caixa, conhecemos o poder do inconsciente para resolver problemas complexos. Assim, um caminho é aprender a jogar o caminhão de informações que nos é ofertado pra dentro da caixa, para que o inconsciente cumpra seu papel (caminho “In” da figura). O segundo é utilizar o GID, o gigantesco inconsciente digital, que nada mais é do que tudo que a humanidade produz depositado de um modo pseudoaleatório, e por isso que chamo de inconsciente, gerenciado por algoritmos de IA. Esse é o caminho “GID” na figura.
Embora nosso cérebro possua 100T (100 trilhões) de parâmetros, muito mais do que os 1,5T da melhor IA atual, ele não é de fácil acesso, é muito mais lento e pouco diverso, já que é apenas você in solo. Por isso que o caminho GID é a melhor aposta para tomadas de decisão rápidas e complexas, já que o caminho In precisa de tempo para maturação. Trocando em miúdos, não dá pra competir com a IA quando a questão envolve volume e velocidade.
A figura mostra os caminhos a serem percorridos para descarregar o “cabeção”

Um terceiro caminho, proposto pelo pesquisador do PPgCTI Wendell Medeiros de Azevedo, ainda carece de um protocolo. Neste processo, nomeado temporariamente por Wendell Effect, utilizar-se-ia respostas do GID para alimentar diretamente o inconsciente, turbinando exponencialmente nosso poder de resolução de problemas. Assim como você, estou aguardando ansiosamente por este protocolo, que poderá utilizar o Neuralink do Musk. Vai ser supimpa!
Compreendido o que está acontecendo e o que temos de fazer, vamos acessar o inconsciente. Senti-me Freud ao dizer isso…
A técnica GBB-San de pensar pesado: cochile, acesse e ative seu inconsciente!
Durante o cochilo (especialmente os de 10 a 30 minutos), o cérebro entra em estados de ondas teta e delta leves, similares ao início do sono REM. Nesse estágio:
- A atividade consciente (lógica e linear) desacelera.
- A associação livre aumenta.
- A filtragem crítica é reduzida, o que abre caminho para conteúdos inconscientes emergirem.
O cochilo pode ser usado como ferramenta de incubação inconsciente — uma versão natural da técnica da Unconscious Thought Theory .
Aplicando a técnica
Determinando o tempo do cochilo
Fique numa posição confortável, mas sem afundar no sono profundo. Em seguida, segure um objeto na mão: chave, colher etc., algo que faça barulho. Ao cair no sono, o objeto deverá ir ao solo e te acordar (eu espero), determinado seu limiar do insight. Essa técnica, segundo pesquisas que fiz na Web, era utilizada por Salvador Dalí e Thomas Edison. A ideia não é que você faça isso toda vez em prol de testar a musculatura cardíaca, mas que determine o tempo necessário para sua incubação de ideia. Depois de algum tempo, constatei que 13 minutos é meu tempo de ouro.
Antes do cochilo
- Defina claramente o problema.
- Escreva ou visualize a questão, com estímulo sensorial (imagem, som ou símbolo).
Durante o cochilo
- Permita o relaxamento sem forçar soluções.
- Evite alarmes abruptos: a volta deve ser gradual.
Após acordar, anote tudo imediatamente. Pensamentos confusos, imagens oníricas, palavras soltas; tudo é insight em estado bruto. Portanto, não interprete — apenas registre.
Além do cochilo, que eu acho massa, outras técnicas promovem acesso ao inconsciente. Você terá de encontrar a sua. Terá também que estar pronto para registrar, interpretar e distorcer criativamente o que surgir. Sem captura imediata, tudo evapora.
Tomando decisões
Admitindo que você levou a sério o que escrevi, vai um conselho: quando tiver diante de uma situação crítica, muitas informações e pouco tempo, opte por utilizar a IA e um bom prompt para tomar decisões. Caso haja um pouco de flexibilidade, emita a seguinte sentença a seu interlocutor ou equipe: dê-me uma colher e 13 minutos e eu conseguirei mover céu e terra.
Essa conversa todo me deu sono. Permitam-me ir ali acessar o inconsciente, “zzzzzzz…”
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Gláucio Brandão é professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e autor do livro Triztorming










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