(Karen Oliveira – Especial para Nossa Ciência)
Apesar do crescimento das discussões acerca de neurodivergências, essas condições ainda são uma incógnita para o público geral. Pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) são alvos de estereótipos, de preconceito e de uma geral falta de compreensão. Pesquisas científicas que buscam entender melhor essa deficiência são essenciais para a contribuir à crescente conscientização do público.
De acordo com Rodrigo Neves Romcy Pereira, professor do Programa de Pós-Graduação em Neurociências da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPGNeuro/UFRN), o autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento. Pessoas com TEA apresentam alterações na formação dos circuitos neurais que ocorrem ainda na gravidez. Além disso, são observadas diferenças no número de neurônios no córtex pré-frontal e padrões de conectividade neural atípicos.
Para a neurociência, as causas do autismo são uma combinação de fatores genéticos e ambientais. De acordo com Pereira, numa minoria dos casos, cerca de 10% a 15%, foram identificados genes específicos associados ao TEA. No entanto, na maior parte (aproximadamente 85% dos casos) há influências poligenéticas, ou seja, de múltiplos genes, e externas. As causas não herdáveis geralmente ocorrem na gestação e incluem infecções fortes e exposição a certas drogas ou pesticidas.
Segundo Pereira, a intervenção precoce é a chave para ajudar no desenvolvimento de crianças com autismo. Para isso, a comunidade científica conduz pesquisas com modelos animais, que permitem entender melhor as mecânicas da condição no corpo.
Modelos
Seguindo as diretrizes éticas, pesquisadores induzem nos modelos animais um quadro similar ao autismo humano. Os animais, então, apresentam características típicas do TEA, como dificuldades em interação social. Assim, Pereira analisa a atividade dos nervos do cérebro, identificando circuitos neurais que estão disfuncionais. “A gente obtém informações no nível fisiológico, no nível molecular, a gente pode obter informações também no nível comportamental, no nível hormonal”, explica o docente.
Apesar do autismo não ter cura, as pesquisas de Pereira buscam encontrar maneiras de amenizar os sintomas. A plasticidade neural, ou seja, a capacidade do sistema nervoso de se adaptar, pode ser a resposta. Por meio dos estudos, pode-se verificar se é possível reverter certos comportamentos atípicos que ocorrem nos animais, além de testar medicamentos. “O cérebro é muito plástico, e muito mais no início da vida”, afirma Pereira.
De acordo com Lilian Kelly de Sousa Galvão, professora do Programa de Pós-graduação em Psicologia Social da Universidade Federal da Paraíba (PPGPS/UFPB), pessoas com TEA são alvos de preconcepções errôneas. Muitos pensam, por exemplo, que indivíduos com autismo são agressivos ou não sentem empatia. “Esses estereótipos são tão falhos quanto afirmar que toda pessoa neurotípica é empática”, afirma a pesquisadora.
Tipos de empatia
Primeiramente, é preciso diferenciar dois tipos de empatia: a cognitiva (entender o que o outro sente) e a afetiva (sentir emoções junto a outras pessoas). Indivíduos com TEA podem ter dificuldades com a primeira devido a obstáculos na compreensão de signos emocionais, mas sentem a segunda como qualquer um, ou seja, se sensibilizam com a dor alheia.
O estereótipo que pessoas com TEA não sentem empatia vem das diferenças na expressão de sentimentos. A expressão da empatia está ligada a expectativas sociais, uma área difícil para autistas. Por exemplo: em algumas situações, a resposta empática socialmente convencional é iniciar um toque físico, dar um abraço. Pessoas com autismo, no entanto, podem não seguir esse padrão já que manifestam seus sentimentos de maneira mais reservada.
Quanto à agressividade, Galvão destaca que não é uma característica do autismo. Comportamentos hostis podem ser uma manifestação de sintomas como a sobrecarga sensorial ou a frustração pela dificuldade de comunicação. “Imagine você ser uma pessoa que não consegue se comunicar, que se irrita com questões sensoriais, com barulho, com luz, com toque”, explica a docente.
Galvão ressalta a diversidade do espectro autista. Aqueles que se enquadram no nível 1 de suporte, geralmente, têm maiores habilidades de comunicação e conseguem lidar melhor com seus sentimentos. Por outro lado, as pessoas no nível 3 apresentam dificuldades para reconhecer ou expressar emoções, podendo levar a comportamentos agressivos em momentos de frustração.
Muitas vezes, comportamentos agressivos vindos de pessoas com TEA também são o resultado de dificuldades na autorregulação emocional e na comunicação. Por isso, segundo Galvão, é necessária uma maior conscientização acerca dos sintomas do autismo.
Políticas de inclusão
Para Divaneide Basílio, deputada estadual do Rio Grande do Norte, o Estado tem o papel de garantir direitos, acessibilidade, inclusão e cuidado ao longo da vida da pessoa com TEA. A parlamentar destaca a importância do diagnóstico precoce e da garantia do acesso à saúde especializada, assim como políticas públicas que assegurem autonomia e dignidade.
“Como mãe atípica, no nosso mandato, essa luta é política e também pessoal”, declara a deputada. “Temos atuado ativamente na defesa dos direitos das pessoas com TEA e de suas famílias”.
Basílio é a propositora do projeto de lei (PL) que institui o Selo Empresa Amiga das Mães Atípicas, que incentiva empresas a estabelecerem ações de proteção e apoio a mulheres com filhos com deficiências. O PL foi aprovado em abril pela Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJ), da Assembleia Legislativa do RN.
“Seguimos firmes na construção de um Rio Grande do Norte mais acolhedor, justo e inclusivo para todas as pessoas, com ou sem deficiência”, afirma a deputada.










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