Marx: O salário é determinado mediante o confronto hostil entre capitalista e trabalhador (Foto: Nossa Ciência)

A luta de classes disfarçada de polarização

(Helinando Oliveira)

A divisão clássica feita por Karl Marx entre capitalista e trabalhador provavelmente é a forma mais adequada para enxergar a luta de interesses que é traçada no congresso nacional, com a derrubada do IOF. Há uma dificuldade clara do brasileiro em se reconhecer como trabalhador ou mesmo entender que assalariado nunca será apoiado pelo capital financeiro.

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Como bem definido por Marx: “O salário é determinado mediante o confronto hostil entre capitalista e trabalhador… O capitalista pode viver mais tempo sem o trabalhador do que este sem aquele. A aliança entre os capitalistas é habitual e produz efeitos; dos trabalhadores é proibida e de péssimas consequências para eles.”

E Marx vai além: “A taxa mais baixa e unicamente necessária para o salário é a subsistência do trabalhador durante o trabalho, e ainda para que ele possa sustentar a família e a raça dos trabalhadores não se extinga.”

Abrindo parênteses para o tema central de hoje (o IOF) é impossível não correlacionar a leitura de Karl Marx com a visão construída pelos capitalistas e incorporada pela classe média brasileira com relação à Universidade Pública. Ela continua sendo a única fábrica de ascensão social para o trabalhador pobre que alimenta sua família com o suor de seu trabalho, à medida em que sonha com um futuro melhor para seus filhos. Sem a Universidade pública estará perpetuada a máxima de que filho de agricultor, metalúrgico e servente não pode ter diploma. A manutenção e fortalecimento da Universidade pública é urgente, hoje e sempre.

Voltando ao cerne da questão, a mídia tenta estabelecer um populismo na máxima de que a taxação das maiores fortunas tem motivação eleitoral, como o de um aprofundamento da polarização social. Ora, o abismo entre ricos e pobres inexoravelmente existe e em sua essência cada vez mais aumenta. E não é polarização social, é fruto de uma luta de classes que é dominada por representantes de oligarquias ao invés de representantes do povo.

A prática dos capitalistas (aqueles que são donos da renda, dos meios de produção, fábricas e terras) permanece em fazer com que a desinformação coopte trabalhadores vendendo a ilusão de que um dia sejam donos do capital. E assim, a consciência de classe, tão cara e ao mesmo tempo rara passa a não funcionar como antídoto contra a falácia de que o capital necessita de apoio popular.

Afinal, como o próprio Marx definiu: “As ideias da classe dominante são, em todas as épocas, as ideias dominantes, isto é, a classe que é a força material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força intelectual dominante.”

A nós, assalariados, resta compreender nossa condição de oprimidos e de que nossa única ferramenta é construir a verdadeira democracia pela consciência de classe: “Trabalhadores do mundo, uni-vos!”

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Helinando Oliveira é físico, professor titular da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e atualmente é vice presidente da Academia Pernambucana de Ciência