O programa INCTs fomenta a criação de redes de pesquisa em temas estratégicos, promovendo a cooperação internacional. (Foto: Agencia UFC)

Pesquisa de alto nível: aprovados 24 novos INCTs no Nordeste

O governo federal aprovou um total de 143 projetos na chamada de novos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT), ampliando em cerca de 20% a quantidade de propostas contempladas nos resultados preliminares. Essa ampliação foi possível graças a um acréscimo de R$ 135,6 milhões em relação ao investimento inicialmente previsto, que era de R$ 1,5 bilhão – consolidando, assim, a maior chamada de INCTs já realizada no país, com aporte total de R$ 1,63 bilhão. As instituições sediadas no Nordeste devem receber juntas pouco mais de R$ 260 milhões, em 24 propostas aprovadas.

Você percebeu que o Nossa Ciência não tem fontes de recursos? Considere contribuir com esse projeto, mandando pix para contato@nossaciencia.com

Quando analisados os números sobre a participação de mulheres na coordenação de projetos científicos revela-se expressiva desigualdade de gênero no Brasil. Dos 143 projetos aprovados em âmbito nacional, apenas 26 são coordenados por mulheres, o que representa aproximadamente 18% do total. No Nordeste, o quadro é semelhante: dos 24 projetos aprovados na região, somente 4 têm coordenação feminina, o que equivale a cerca de 17%. As quatro propostas lideradas por pesquisadoras estão no Ceará, Piauí, Paraíba e Pernambuco.

Alguns projetos aprovados

Bruno Tomio Goto INCT Fungos do Brasil UFRN (Foto: UFRN)

Do Rio Grande do Norte, o único aprovado foi o projeto Fungos-BR, coordenado pelo professor Bruno Tomio Goto, micólogo do Departamento de Botânica e Zoologia (DBEZ) do Centro de Biociências (CB/UFRN).

Com sede no Instituto de Química (IQ/UFRN), o Fungos-BR reúne pesquisadores de 12 instituições brasileiras, em articulação com grupos internacionais. A proposta busca aprofundar o conhecimento sobre a diversidade, o funcionamento e o potencial de aplicação dos fungos em áreas como saúde, biotecnologia e sustentabilidade ambiental.

Além de investigar os papéis ecológicos e as interações dos fungos com diferentes sistemas, o Fungos-BR pretende construir um banco de dados integrado e acessível à sociedade, conectando pesquisa científica e popularização do conhecimento. O grupo também reúne material genético e fomenta novas aplicações dos fungos em setores como agricultura, energia e remediação ambiental.

Ceará

Cláudia do Ó Pessoa. INCT T-Bio2: Biodescoberta Translacional e Biomodelos (Foto: Viktor Braga / UFC)

A Universidade Federal do Ceará (UFC) aprovou duas propostas.  O projeto INCT T-Bio2: Biodescoberta Translacional e Biomodelos, coordenado pela professora Cláudia do Ó Pessoa (UFC), é um dos contemplados. Cláudia é pesquisadora do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM) da UFC. Em parceria com a professora Maria Lucia Zaidan Dagli, da Universidade de São Paulo (USP), o projeto visa estabelecer uma plataforma pré-clínica inovadora, integrando ciência de ponta e colaboração internacional para acelerar o desenvolvimento de terapias mais eficazes e personalizadas no combate ao câncer.

A coordenadora afirma que o INCT T-Bio2 irá posicionar a pesquisa da UFC na vanguarda da inovação em saúde no país. “Nosso objetivo é impulsionar o desenvolvimento de novos insumos farmacêuticos ativos (IFAs), conectando a produção científica ao setor produtivo da indústria farmacêutica nacional. Assim como valorizar a biodiversidade brasileira como fonte incontestável de novas moléculas promissoras para a saúde”, explica Cláudia.

O INCT T-Bio2 propõe o desenvolvimento de biomodelos oncológicos, incluindo Oncopigs geneticamente editados, para a avaliação de fármacos e biofármacos anticâncer, com foco na promoção da medicina de precisão. A iniciativa integra tecnologias de ponta, edição genética, cultura celular 3D, tumoroides, além da aplicação da oncologia veterinária e comparada, com ênfase no estudo de neoplasias espontâneas em cães.

Com foco em relevância científica e abrangência multidisciplinar, a proposta da UFC reúne 64 pesquisadores de áreas complementares, provenientes de 14 instituições nacionais. O projeto contará com a colaboração de oito instituições internacionais, oriundas de países como EUA, China, Uruguai, Suíça, Portugal e Irlanda, além de contar com a parceria do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Biomar

Alexandre Sampaio INCT Biomar (Foto: Ribamar Neto / UFC)

A segunda iniciativa da UFC contemplada é o projeto Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Biotecnologia Marinha (INCT BioMar). Sob coordenação do professor Alexandre Holanda Sampaio, do Departamento de Engenharia de Pesca da UFC, tem o objetivo de explorar a biodiversidade marinha brasileira de forma sustentável, buscando identificar, isolar e estudar biomoléculas com potencial biotecnológico para o desenvolvimento de novas terapias e produtos em biotecnologia e ciências biomédicas.

“A proposta do INCT BioMar é transformar a riqueza dos nossos mares em conhecimento, biotecnologia e saúde, sempre com responsabilidade ambiental, ética científica e compromisso com o desenvolvimento sustentável. Nosso foco inclui aplicações contra infecções bacterianas resistentes, câncer, diabetes, doenças negligenciadas, como a leishmaniose, e no desenvolvimento de curativos inteligentes”, explica Alexandre.

Segundo o coordenador do projeto, o recurso permitirá a consolidação do INCT BioMar como centro de excelência em biotecnologia marinha. Alexandre destaca que o valor será destinado ao fortalecimento da infraestrutura dos laboratórios participantes, bem como à formação de recursos humanos qualificados, com custeio de bolsas de iniciação científica, além de apoio a missões científicas dentro e fora do país.

“Estar entre os selecionados e representar a UFC em uma lista tão qualificada é uma grande conquista. É um reconhecimento da competência do Laboratório de Biotecnologia Marinha (BioMar Lab), que já desponta com evidências nacionais e internacionais pela produção científica. Somos um dos grupos mais relevantes mundialmente na área de pesquisa em lectinas de algas e invertebrados marinhos”, ressalta o coordenador.

Alagoas

Contando com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal), a Universidade Federal de Alagoas (UFAL) teve a aprovação de dois projetos nas área da agricultura sustentável e da inclusão educacional por meio da inteligência artificial. A instituição prevê que a conquista consolida a UFAL como instituição de referência nacional em pesquisa científica e tecnológica, com atuação em áreas estratégicas para o país.

Antonio Euzebio Goulart Santana, INCT Bioinovações para Agricultura Sustentável (Foto: Renner Boldrino Ascom / UFAL)

Coordenado pelo professor Antonio Euzebio Goulart Santana, o projeto INCT Bioinovações para Agricultura Sustentável será sediado no Campus de Engenharias e Ciências Agrárias (Ceca), sediado em Rio Largo. A proposta reúne cerca de 20 instituições, entre elas 18 universidades e a Embrapa, e busca desenvolver soluções tecnológicas sustentáveis com base na ecologia das interações e comunicação química entre espécies.

Entre as inovações previstas estão o uso de semioquímicos para manejo integrado de pragas, biopesticidas à base de óleos essenciais e microrganismos nativos, além de armadilhas inteligentes e biossensores. O projeto também aborda os impactos do antropoceno nos agroecossistemas, como poluição, uso intensivo de inseticidas e mudanças climáticas, buscando criar alternativas viáveis para uma agricultura mais segura, produtiva e ambientalmente responsável.

O professor Euzebio comemorou a aprovação. “Projetos dessa envergadura mostram o amadurecimento da UFAL e o reconhecimento da nossa capacidade científica. Estamos liderando uma iniciativa robusta que forma pessoal, desenvolve produtos e amplia a atuação da instituição no campo da ecologia química. Isso é muito importante para o nosso programa de pós-graduação em proteção de plantas e para a afirmação do Ceca como polo de excelência”, afirmou.

Inteligência artificial na educação desplugada

O segundo projeto aprovado é liderado pelo professor Ig Ibert Bittencourt, do Instituto de Computação e do Núcleo de Excelência em Tecnologias Sociais (Nees). O INCT IA.Edu – Instituto Nacional de Inteligência Artificial na Educação Desplugada tem como foco o desenvolvimento de tecnologias em inteligência artificial voltadas à educação em contextos com baixa ou nenhuma conectividade, beneficiando populações historicamente excluídas do processo digital.

A proposta alia inovação tecnológica com compromisso social e tem como meta gerar impacto real na inclusão educacional brasileira. O projeto fortalece parcerias interinstitucionais, atrai novos investimentos para a região e estimula a formação de pesquisadores altamente qualificados.

Ig Ibert Bittencourt INCT IA.Edu – Instituto Nacional de Inteligência Artificial na Educação Desplugada (Foto: Renner Boldrino / UFAL)

“A aprovação desse INCT representa um marco importante para a UFAL, pois posiciona a instituição como referência nacional em pesquisa voltada à inclusão educacional. Trata-se de uma iniciativa estratégica, que reafirma nosso papel no enfrentamento das desigualdades e no avanço da ciência aplicada à realidade brasileira”, destacou a pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação, Iraides Pereira Assunção.

Bittencourt destaca que existem apenas dois INCTs no país voltados para a educação e o da UFAL é o único com foco específico de inteligência Artificial na educação. “Já vínhamos liderando uma agenda global voltada à educação, especialmente em contextos mais vulneráveis, como regiões litorâneas e periféricas”, relata.

Ele detalha mais sobre a inovação deste projeto. “Criamos essa agenda porque acreditamos que a forma como enxergamos a educação, e como iremos atuar nela, é completamente diferente do modelo tradicional. A nossa proposta parte de uma visão em que o desenho educacional já nasce pensado para promover o cuidado e o desenvolvimento social. Esse é o principal objetivo do nosso INCT, e é por meio dele que pretendemos liderar essa agenda global de educação no país e no mundo”, explica o professor.

Programa INCTs

Lançada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a chamada prioriza pesquisas nacionais de alto impacto científico e tecnológico. Os recursos vêm majoritariamente do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), responsável por R$ 1,09 bilhão.

Também aportaram recursos na chamada as fundações estaduais de amparo à pesquisa (FAPs) dos estados do Piauí e de Alagoas, dos quatro estados do Sudeste, do Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul, além do Ministério da Saúde e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Criado em 2008, o programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia fomenta a criação de redes de pesquisa em temas estratégicos, promovendo a cooperação internacional.

Com as 143 novas contratações, o país passará a ter 243 INCTs, uma expansão de cerca de 20% em relação ao total anterior de 202 – 102 contratados através da chamada de 2014, que se encerraram em abril; e outros 100 da chamada realizada em 2022, vigentes até 2027 ou 2028.

Projetos aprovados (Nordeste)

Proponente INCT Inst Sede Valor Total
1 Antonio Euzebio Goulart Santana Bioinovações para Agricultura Sustentável UFAL R$ 8.952.868,80
2 Ig Ibert Bittencourt Santana Pinto IA.Edu – Instituto Nacional de Inteligência Artificial na Educação Desplugada UFAL R$ 10.589.295,90
3 Mitermayer Galvao dos Reis I N de Patologia Molecular e Computacional CPqGM R$ 10.533.471,97
4 Edgar Marcelino de Carvalho Filho INCT em Doenças Tropicais CPqGM R$ 10.537.979,20
5 Manoel Barral Netto INCT em Saúde Digital FIOCRUZ R$ 13.778.600,95
6 Wilson da Silva Gomes INCT em Democracia Digital UFBA R$ 10.475.589,44
7 Joao Carlos Salles Pires da Silva Ciência e Democracia UFBA R$ 14.491.108,15
8 Claudia do o Pessoa INCT T-Bio²: Biodescoberta Translacional  e Biomodelos UFC R$ 14.996.869,89
9 Alexandre Holanda Sampaio INCT Biotecnologia Marinha – INCT BioMar UFC R$ 11.337.288,72
10 Osvaldo Ronald Saavedra Mendez INCT em Energias Oceânicas, Fluviais UFMA R$ 10.422.698,64
11 Livio Martins Costa Junior INCT-IPA: Inovação em Parasitologia Animal UFMA R$ 10.503.731,95
12 Roberto Véras de Oliveira INCT Trabalho, Inclusão e Equidade UFPB R$ 9.258.818,18
13 Ana Raquel Rosas Torres Observatório Nacional dos Preconceitos UFPB R$ 10.510.866,12
14 Anderson Stevens Leonidas Gomes Instituto Nacional de Fotônica – INFO UFPE R$ 14.848.800,00
15 Mauro Copelli Lopes da Silva Computação Neural UFPE R$ 12.784.108,80
16 Francisco de Assis Tenorio de Carvalho Computação Quântica Aplicada UFPE R$ 10.534.555,72
17 Augusto Cezar Alves Sampaio INCT para Engenharia de Software Baseada em e para Inteligência Artificial UFPE R$ 14.376.000,32
18 Danielle Costa Morais INSID – Instituto Nacional de Sistemas de Informação e Decisão UFPE R$ 6.444.350,08
19 Oscar Manoel Loureiro Malta INCT-LumiNanoTec  Tecnologias Luminescentes: sensores, marcadores e nanodispositivos integrados UFPE R$ 11.876.431,72
20 Clistenes Williams Araujo do Nascimento IN de Biotecnologias para o Setor Mineral UFRPE R$ 10.220.730,17
21 Rinaldo Aparecido Mota Rede de Estudos Avançados em Doenças Negligenciadas no Contexto de Uma Só Saúde no Nordeste Brasileiro UFRPE R$ 9.203.458,08
22 Anne Marie Pessis IN de Arqueologia e Ambiente do Nordeste do Brasil, Inapas FUMDHAM R$ 8.725.308,80
23 Joao Marcelo de Castro e Sousa INCT de Oncologia Translacional e Terapias Gênicas UFPI R$ 4.178.355,90
24 Bruno Tomio Goto INCT – Fungos do Brasil UFRN R$ 11.044.368,70

Outras informações sobre a Chamada

Se você chegou até aqui, considere contribuir para a manutenção desse projeto. Faça um pix de qualquer valor para contato@nossaciencia.com