O Rota da Fruticultura se alinha aos objetivos de desenvolvimento sustentável. (Foto: Passos Jr)

Projeto fortalece fruticultura no semiárido potiguar com preservação de espécies nativas

(Passos Júnior – especial para o portal Nossa Ciência)

Com investimento de R$ 1,2 milhão, a Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), por meio do Projeto Rota da Fruticultura, está à frente de uma iniciativa estratégica para o fortalecimento da agricultura familiar e a conservação da biodiversidade no semiárido potiguar. O projeto visa à produção de mudas e à implantação de bancos de germoplasma de espécies do gênero Spondias, como umbu-cajazeira, cajá e seriguela, com destaque para ações de caracterização morfológica, bioquímica e molecular.

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A proposta é coordenada por Glauber Henrique de Sousa Nunes professor titular da Ufersa com atuação no Centro de Ciências Agrárias e no Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia, com apoio de uma equipe multidisciplinar composta por docentes da Ufersa. A iniciativa foi aprovada pelo Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) e integra a Rota da Fruticultura, política pública voltada à valorização da cadeia produtiva de frutas nas regiões Nordeste e Centro-Oeste.

Professor Glauber Nunes – coordenador do Projeto Spondias (Foto: Analise Sousa)

Segundo o coordenador do projeto, a proposta surgiu da necessidade de valorização das espécies nativas do gênero Spondias. “Essas espécies têm um apelo social muito grande e são fonte de renda extra para o agricultor”, explica o pesquisador. Além da relevância econômica, ele destaca o impacto ambiental positivo: “Elas não exigem tanta água, são adaptadas ao nosso semiárido e contribuem para o aumento da área verde com espécies nativas”.

Bancos de germoplasma: conservação e pesquisa

Uma das principais metas do projeto é a implantação de três Bancos de Germoplasma (BAGs) – um para cada espécie: umbu-cajazeira, cajá e seriguela. O BAG de umbu-cajazeira já está sendo implantado na Fazenda Experimental Rafael Fernandes da Ufersa, em Mossoró, com 25 acessos coletados em municípios do Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará. A meta é chegar a 50 acessos de diferentes origens. O objetivo é identificar variedades mais produtivas e adaptadas ao clima do Semiárido, permitindo futuramente a multiplicação e distribuição para os produtores da região.

Segundo Vander Mendonça, professor titular do Centro de Ciências Agrárias e no Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia, também integrante da pesquisa e coordenador do Grupo de Fruticultura da Ufersa, cada planta foi georreferenciada e registrada, garantindo rastreabilidade genética desde a coleta até o cultivo experimental. As mudas estão sendo avaliadas em aspectos como crescimento, desenvolvimento e, futuramente, qualidade dos frutos. O banco, que deve reunir cerca de 50 acessos, representa um passo fundamental para transformar espécies tradicionalmente cultivadas em fundos de quintal em alternativas viáveis para o agronegócio e a indústria de polpas e sucos.

Professor Vander Mendonça (Foto: Analise Sousa)

Esses acessos serão caracterizados por meio de análises morfológicas (como altura da planta, área da copa, dimensões do fruto), bioquímicas (acidez, pH, vitamina C, açúcares e antioxidantes) e moleculares, com o uso de marcadores genéticos (ISSR e RAPD), que são ferramentas usadas para identificar variações no DNA, permitindo estudos de diversidade genética, mapeamento de genomas e análise de relações evolutivas. A caracterização permitirá selecionar materiais com maior potencial para o cultivo e uso agroindustrial, promovendo o uso sustentável da biodiversidade.

O projeto busca ainda preencher uma lacuna histórica de estudos científicos sobre essas espécies nativas. Para o professor Mendonça, o BAG é estratégico para a segurança alimentar, a conservação da biodiversidade e o fortalecimento da agricultura familiar. “É um trabalho de médio a longo prazo, mas que pode transformar o potencial das Spondias em uma nova fronteira produtiva do Semiárido brasileiro”, conclui.

Produção e distribuição com foco na sustentabilidade

A Ufersa seguirá até 2027 na produção de mudas do gênero Spondias, contemplando três espécies que estão sendo pesquisadas (cajá, umbu-cajá e siriguela). Coordenado pelo agrônomo Giorgio Mendes Ribeiro, técnico do Centro de Ciências Agrárias, o Setor de Produção de Mudas já alcançou 50% da meta estabelecida até 2027, com 60 mil mudas produzidas das 110 mil previstas. O projeto contempla municípios da região Oeste potiguar e também apoia localidades que manifestem interesse por meio de ofícios enviados à universidade.

Giorgio Mendes, coordenador do Setor de Mudas da Ufersa (Foto: Passos Jr)

O processo de produção das mudas envolve etapas criteriosas, desde a compostagem de resíduos orgânicos até a estaquia e aclimatação das plantas. A produção utiliza substrato feito com arisco e composto orgânico — este último produzido no próprio setor, a partir de esterco e folhas.

As estacas das spondias selecionadas passam por tratamento específico para enraizamento e, após plantadas, seguem para um ambiente de adaptação climática até chegarem ao viveiro definitivo. “As mudas ficam no berçário por cerca de 30 dias e, em seguida, são levadas ao viveiro, onde recebem cuidados diários”, explica Ribeiro.

Envolvendo estudantes bolsistas dos cursos de Agronomia, Ecologia e Engenharia Florestal, o projeto promove formação teórica e prática sobre o cultivo das espécies. Além disso, contribui para o fortalecimento da agricultura familiar, com foco no aproveitamento comercial e potencial de exportação dos frutos.

“Estamos lidando com culturas que têm excelente aceitação no Sul e Sudeste do país, especialmente para produção de polpas. É uma iniciativa que agrega valor e pode gerar renda para muitos agricultores da região”, destaca o coordenador do projeto, Glauber Nunes.

As mudas serão distribuídas a agricultores de pelo menos 20 municípios do Oeste do Rio Grande do Norte, promovendo o fortalecimento da agricultura familiar. A distribuição leva em consideração as demandas específicas de cada município, visando estimular o cultivo comercial e o aproveitamento agroindustrial dessas frutas, tanto no consumo in natura quanto na produção de sucos, doces, polpas congeladas, picolés e outros derivados.

Apesar da simplicidade relativa na produção de mudas, o processo de “pegamento” – quando a estaca enraíza – apresenta perdas naturais. “Cerca de 20% das estacas não enraízam, por isso produzimos um volume maior para garantir as 110 mil mudas estipuladas”, explica o professor Glauber Nunes. Sobre o potencial produtivo, ele destaca a importância da seleção genética. “Uma planta bem produtiva de cajarana pode render até 50 toneladas por safra. Por isso é importante identificar e multiplicar essas variedades mais eficientes”.

Relevância social, científica, econômica e ambiental

A umbu-cajazeira, embora ainda explorada de forma extrativista, possui grande potencial para geração de emprego, renda e segurança alimentar, sobretudo no semiárido. A valorização das Spondias contribui não apenas para o desenvolvimento econômico sustentável, mas também para a preservação de espécies nativas e da agrobiodiversidade regional.

O coordenador do projeto ressalta que o foco é fornecer alternativas sustentáveis e rentáveis. “Essas frutas servem de matéria-prima para sorvetes, polpas, sucos. São muito valorizadas pela agroindústria”, afirma. Além disso, ele pontua que o projeto envolve “pesquisadores de várias áreas e permite a formação de estudantes de pós-graduação em genética e melhoramento de plantas”.

O projeto ainda se propõe a formar recursos humanos qualificados, integrando ações de ensino, pesquisa e extensão em cursos de graduação e pós-graduação da Ufersa. Dessa forma, proporciona aos estudantes oportunidades de aprendizagem prática e promove a conscientização sobre a importância da conservação ambiental.

Pesquisadores envolvidos

A Ufersa é a instituição executora do projeto, contando com o envolvimento direto de estudantes, professores e servidores. Já o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional fornece os recursos financeiros e apoio logístico. “O MDR dá o recurso para que o projeto seja executado e toda a orientação para que sigamos os trâmites burocráticos e logísticos”, destaca Glauber Nunes.

Além do coordenador, o projeto conta com a participação dos professores Francisco de Queiroz Porto Filho, Ioná Santos Araújo Holanda, Moises Ozorio de Souza Neto, Lindomar Maria da Silveira, Liz Carolina da Silva Lagos Cortes Assis, Poliana Coqueiro Dias Araújo, Eudes de Almeida Cardoso, Cláudia Alves de Sousa Muniz, Ester Medley Bezerra Teixeira de Almeida e Francisco das Chagas Gonçalves.

O Rota da Fruticultura se alinha aos objetivos de desenvolvimento sustentável, associando conservação da biodiversidade, produção científica e apoio direto às comunidades rurais. “Esse projeto mostra a missão da Ufersa enquanto produtora de conhecimento e como agente de transformação social no semiárido brasileiro”, finaliza Nunes.

Metas do Projeto Rota da Fruticultura

  • Implantação de três Bancos de Germoplasma;
  • Caracterização morfológica, bioquímica e molecular;
  • Produção e distribuição de mais de 111 mil mudas;
  • Formação de recursos humanos e fomento à pesquisa e extensão;
  • Fortalecimento da cadeia produtiva de fritas nativas adaptadas ao semiárido.

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