Mileva Maric e sua filha (Credito: Wikimedia Commons)

A presença de Mileva Marić na Teoria da Relatividade

(Helinando Oliveira)

Quero começar essa matéria convidando o leitor a fazer um experimento imaginário: pense em cinco nomes de cientistas famosos. Agora responda: Quantos deles são brasileiros? Quantas são mulheres?

Você percebeu que o Nossa Ciência não tem fontes de recursos? Considere contribuir com esse projeto, mandando pix para contato@nossaciencia.com

Na minha lista mental apareceram um brasileiro (Cesar Lattes) e uma mulher (Marie Curie). Imagino que na maioria dos leitores que fizeram este exercício houve uma constatação de que a grande maioria foi de homens e que pouquíssimos brasileiros apareceram. Isso nos mostra que os cientistas brasileiros precisam ser mais conhecidos e que a ciência tende a enaltecer a figura masculina e seus feitos. Não fosse a qualidade quase sobrenatural de Marie Curie, a famosa foto da Conferência de Solvay em 1927 contaria apenas com a presença masculina.

Ainda sobre minha pergunta inicial arrisco dizer que a maioria pensou imediatamente em Albert Einstein. Diria ainda que ninguém pensou em Mileva Marić, ou mesmo nunca tenha ouvido falar nela.

Mileva foi a primeira esposa de Einstein e considerada por seus professores como uma física promissora, apesar de todos os impedimentos de uma mulher que não poderia cursar disciplinas como aluno regular à época.

Conferência de Solvay em 1927, com a única presença feminina de Marie Currie.

Não bastasse a dificuldade para o ingresso feminino no mundo científico àquela época, a narrativa em pleno século XXI ainda não estabelece uma reparação histórica à altura de seu papel dentro do desenvolvimento da teoria de Einstein, embora artigos e filmes (Einstein´s wife) tenham abordando o papel de Mileva a partir de cartas que ambos trocavam.

Em uma destas cartas, Einstein diz: “Quão feliz e orgulhoso eu serei quando nós dois tivermos trazido nosso trabalho sobre movimento relativo a uma conclusão vitoriosa”. Em comum, nestas cartas, o pronome “nosso” prevalece sobre o “meu”. A pergunta que surge de imediato é o porquê do nome da esposa de Einstein não surgir em autorias ou mesmo em seus agradecimentos. Curiosamente, mais tarde, por advento de sua separação, Einstein oferta (em 1918) o prêmio que estaria prestes a ser contemplado (o prêmio Nobel que chegaria em 1921). Estes fatos, somado aos fatos narrados pelo conteúdo das cartas dão margem para conjecturas diversas.

O fato é de que este é apenas mais um exemplo que atravessa o tempo sobre a dificuldade em tornar equitativas as oportunidades de participação de mulheres e homens na ciência. As agências de fomento começam a perceber aspectos cruciais como a maternidade e este é um passo inicial a pavimentar uma longa estrada de reparação para as mulheres na ciência.

Menos invisibilidades e mais oportunidades. É disso que precisamos.

Se você chegou até aqui, considere contribuir para a manutenção desse projeto. Faça um pix de qualquer valor para contato@nossaciencia.com

Leia outros textos da coluna Ciência Nordestina

Helinando Oliveira é físico, professor titular da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e atualmente é vice presidente da Academia Pernambucana de Ciência