(Mayara Jully Costa da Silva e John Fontenele Araujo)
Estudos científicos têm mostrado, cada vez mais, as vantagens do exercício físico para o cérebro, especialmente para as funções cognitivas e motoras. Exercícios aeróbicos, como caminhar, pedalar e dançar, promovem a neuroplasticidade — a capacidade do cérebro de se reorganizar e formar novas conexões — e ativam mecanismos neuroprotetores.
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Essa reorganização melhora a conectividade entre as áreas neurais, resultando em melhorias na cognição e no movimento. Além disso, pesquisas indicam que o exercício tem o potencial de não apenas aliviar os sintomas, mas também de modificar a progressão de doenças neurodegenerativas como o Parkinson e o Alzheimer.
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O desafio da Doença de Parkinson
A Doença de Parkinson é uma condição multifatorial que afeta cerca de 10 milhões de pessoas em todo o mundo. Ainda sem cura, o Parkinson compromete diversos sistemas do corpo, causando sintomas motores (como tremores e rigidez), cognitivos, psiquiátricos e distúrbios do sono.
Um dos maiores desafios é o diagnóstico precoce. Na maioria dos casos, os sintomas só aparecem quando 50% dos neurônios que produzem dopamina já foram destruídos. À medida que a doença avança, os problemas de marcha se tornam mais evidentes, com passos curtos e arrastados, e episódios de “congelamento de marcha” — um bloqueio súbito do movimento, apesar da intenção de caminhar.
Esses problemas aumentam o risco de quedas, que ocorrem em cerca de 50% das pessoas com a doença durante uma simples caminhada. As dificuldades pioram quando o paciente precisa fazer mais de uma tarefa ao mesmo tempo. Esse distúrbio da marcha é muito incapacitante e, infelizmente, os tratamentos atuais, como medicamentos e a Estimulação Cerebral Profunda, não são totalmente eficazes para essa condição. Por isso, novas estratégias complementares são necessárias para melhorar a qualidade de vida e modificar a progressão da doença.
O pedalar como estratégia terapêutica
Nos últimos 15 anos, pedalar se tornou um foco de pesquisa como uma possível estratégia para melhorar os sintomas de doenças neurodegenerativas e para a prevenção (neuroproteção). Em 2010, o neurologista holandês Bastiaan R. Bloem publicou um relato científico fascinante: um paciente em estágio avançado de parkinson, que tinha sérias dificuldades para andar e sofria de congelamento de marcha, conseguia pedalar uma bicicleta sem tremores, instabilidade ou congelamento. Essa observação acendeu uma luz para os pesquisadores sobre a capacidade de pedalar, que parece ser mantida mesmo em estágios avançados da doença.
Pesquisadores também têm investigado a fraqueza muscular, que é comum na doença e está associada à instabilidade postural e ao aumento do risco de quedas. Estudos mostram que a fraqueza e a lentidão dos movimentos nas pessoas com Parkinson estão ligadas à fisiopatologia da doença, incluindo a redução do fluxo de sinais do cérebro para os músculos.
Pedalando rumo ao futuro
Os benefícios do movimento cíclico de pedalar para os membros inferiores e para o cérebro são uma realidade científica. A bicicleta pode democratizar o acesso ao exercício físico, pois é de baixo custo, fácil de usar e adequada para todas as idades.
No Brasil, o Laboratório de Neurobiologia Rítmica e Biológica (LNRB) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em parceria com o Instituto de Neurociências Edmond e Lily Safra do Instituto Santos Dumont (ISD), está investigando os efeitos do pedalar em pessoas com Parkinson. O objetivo é desenvolver estratégias terapêuticas baseadas nas mudanças que ocorrem na atividade cerebral e na marcha após alguns minutos de exercício em uma bicicleta estacionária.
Compreender esses mecanismos nos ajudará a criar orientações terapêuticas para o uso da bicicleta, contribuindo para a melhora da qualidade de vida dos pacientes. Além de reduzir os sintomas do Parkinson, pedalar melhora a condição cardiorrespiratória e, para aqueles que podem se locomover de bicicleta, aumenta a autonomia e a interação social.
A melhoria na qualidade de vida de pacientes com Parkinson permitirá que eles se beneficiem no futuro de novos tratamentos que possam interromper ou até curar a doença. Pedalar, nesse sentido, é como uma poupança para o cérebro, protegendo-o enquanto a ciência avança em busca da cura.
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John Fontenele Araujo é professor titular do Departamento de Fisiologia e do Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia da UFRN
Mayara Jully Costa da Silva é doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia da UFRN









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