(Passos Júnior/Ufersa)
Um trabalho conjunto de pesquisadores da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa) gera inovação com potencial de impacto social e científico. O invento que acabou de conquistar mais uma patente é fruto da integração entre ciência, criatividade e a visão de que grandes soluções podem nascer de ideias aparentemente simples. O projeto intitulado “Base de suporte para cura rotativa de parafusos de interferência impresso em resina 3D”, desenvolvido em parceria entre a Engenharia e a Medicina, representa um avanço significativo no aumento de implantes para tratamento de pacientes que necessitam de procedimentos ortopédicos.
O médico ortopedista Diego Ariel de Lima, professor adjunto do Curso de Medicina da Ufersa e coordenador da pesquisa, explica que a motivação inicial partiu da observação prática do cotidiano clínico. “Muitas vezes, soluções para problemas complexos podem surgir a partir de uma necessidade básica do paciente. A ideia deste dispositivo nasceu justamente da tentativa de oferecer conforto, praticidade e eficiência no processo de recuperação de pessoas que precisam de suporte para o movimento”, destaca Lima.
A tecnologia patenteada alia um desenho ergonômico a mecanismos de fácil manuseio, permitindo que fisioterapeutas e médicos realizem a tração controlada sem a necessidade de equipamentos grandes ou de difícil acesso. Trata-se de um dispositivo portátil, de baixo custo e alta aplicabilidade, que poderá beneficiar tanto clínicas especializadas quanto hospitais com menos recursos.
“Inovação não é sinônimo de complexidade”

O reitor da Ufersa, Rodrigo Nogueira de Codes, professor associado, do Centro de Engenharias, acredita que a engenharia se fortalece com a colaboração interdisciplinar. “Esta patente mostra que inovação não é sinônimo de complexidade ou alto custo. É a capacidade de olhar para problemas reais e, a partir de ideias simples, criar soluções com potencial de chegar ao SUS e à rede privada, ampliando acesso e qualidade de vida. Nosso compromisso é seguir fortalecendo a pesquisa aplicada e a cultura de propriedade intelectual dentro da Ufersa”, afirmou.
O invento já despertou interesse de empresas da área da saúde e abre espaço para novas parcerias voltadas a testes, certificações e transferência de tecnologia. Mais do que isso, reforça o papel das universidades federais no Brasil como centros de produção de conhecimento aplicado, capazes de transformar ideias em soluções que chegam à sociedade.
A nova patente dá continuidade a uma linha de pesquisa voltada para o desenvolvimento de materiais cirúrgicos de alta qualidade e custo acessível. “Primeiro desenvolvemos um protótipo, depois uma máquina para testes mecânicos, e agora conseguimos ampliar e aperfeiçoar a produção dos parafusos. O diferencial é que utilizamos o ácido lático (PLA), material biocompatível, produzido em impressoras 3D comuns, com especificações próprias patenteadas por nossa equipe”, explicou Codes.
Para Diego Lima, a patente é um passo importante, mas não o único: “Queremos avançar para as próximas etapas de testes e parcerias, de modo que esse dispositivo chegue efetivamente aos pacientes. Afinal, o propósito maior da ciência é melhorar a qualidade de vida das pessoas”, acredita.
Observação prática do cotidiano hospitalar
A professora de Medicina Lana Lacerda de Lima, anestesista e integrante da equipe, destaca que a ideia nasceu da observação prática no cotidiano hospitalar. “Os parafusos disponíveis no mercado são extremamente caros e inviáveis para o SUS. Pensamos em desenvolver algo acessível e de qualidade. E o grande mérito é exatamente esse: sair do nosso nicho da medicina e trabalhar em conjunto com outras áreas da universidade, cumprindo a verdadeira função da instituição”, afirmou.
Ao conquistar essa patente, a Ufersa reafirma a força da pesquisa interdisciplinar e comprova que inovação não precisa, necessariamente, nascer de projetos grandiosos e complexos que pode emergir do olhar atento às demandas cotidianas e da criatividade em transformar o simples em essencial.
A patente, concedida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) sob o númbero BR 202024023499-0, tem validade de 15 anos. O invento se insere no campo biomédico e busca otimizar a fabricação de parafusos de interferência utilizados em cirurgias de reconstrução ligamentar, oferecendo alternativa biodegradável, personalizada e economicamente viável.









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