Estudo indica que, enquanto o Brasil perde profissionais especializados, Portugal ganha mão de obra jovem e capacitada. (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom /Agência Brasil)

Cresce migração qualificada de brasileiros para Portugal

(Gabriely Garcia / Agecom UFRN)

A migração de brasileiros com ensino superior para Portugal tem crescido nos últimos anos, delineando uma nova configuração no cenário migratório entre os dois países. É o que demonstra a tese de doutorado de Leandro Nazareno Basílio Júnior, defendida no Programa de Pós-Graduação em Demografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPGDem/UFRN).

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Intitulada “Migração qualificada do Brasil para Portugal: dinâmica recente e perspectivas para o projeto migratório”, a pesquisa analisa o período entre 2011 e 2021 e conclui que Portugal se consolidou como um dos principais destinos na Europa para brasileiros com formação universitária, especialmente a partir de 2016, quando o Brasil atravessou crises políticas, econômicas e sociais.

A investigação analisou dados oficiais de instituições como o Eurostat e o Instituto Nacional de Estatística de Portugal. Além disso, imigrantes brasileiros com diploma superior responderam a um questionário com 20 perguntas sobre perfil, motivações e desafios enfrentados.

Quantificando e qualificando a migração

O estudo revela que o fenômeno migratório tomou conta das ruas e aeroportos europeus, ganhando força entre 2011 e 2019. Nesse período, as entradas anuais de pessoas que residiam no Brasil saltaram de 10 mil para 55 mil. Entre os países, destaca-se Portugal, que, de acordo com os dados dos censos, teve um crescimento de 247,5% no número de brasileiros com ensino superior completo, entre 20 e 64 anos.

Os principais destinos para esses migrantes são a Área Metropolitana de Lisboa (AML) e a Área Metropolitana do Porto (AMP). No entanto, outros locais, especialmente as cidades universitárias, têm se tornado cada vez mais procurados.

A partir de 2020, o fluxo sofreu retração devido à pandemia de Covid-19 e às restrições de mobilidade. Ainda assim, os números de 2021 permaneceram acima dos registrados na primeira metade da década, o que confirma a consolidação da emigração qualificada brasileira, com Portugal mantendo posição de destaque como destino.

Os resultados mostram ainda que a maioria dos migrantes qualificados é composta por jovens e mulheres, motivados por fatores como segurança, qualidade de vida, oportunidades de estudo e inserção no mercado de trabalho.

Foi observado que 32,6% dos participantes apontaram “estabelecer residência” como principal motivo para migrar, o que revela um desejo de permanência duradoura ou definitiva. Em seguida, “educação e formação” aparece com 15,5%, refletindo a ânsia na busca por oportunidades de qualificação e continuidade dos estudos em território português.

O trabalho também é um fator expressivo, citado por 13% dos brasileiros que deixaram seu país em busca de novas oportunidades de recolocação profissional ou recomeço de carreira.

A decisão de migrar para a Europa, sobretudo Portugal, costuma nascer de um imaginário poderoso: a promessa de segurança, qualidade de vida e oportunidades profissionais compatíveis com a formação. A afinidade cultural e linguística torna o país um porto seguro, criando um imaginário sobre uma transição menos abrupta do que outros destinos da Europa. No entanto, a realidade nem sempre corresponde às expectativas.

Desafios e vantagens

Muitos migrantes, apesar da alta qualificação, enfrentam obstáculos como subemprego, burocracia, episódios de preconceito e dificuldade de reconhecimento de diplomas, o que limita uma inserção profissional compatível com a formação que trouxeram do Brasil. Por outro lado, alguns conseguem manter a trajetória acadêmica por meio de bolsas e programas de pós-graduação, preservando vínculos com suas áreas de atuação.

Relatos indicam que a sensação de poder caminhar à noite, ver os filhos brincando na rua e ir e voltar do trabalho a pé é um ganho quase físico, uma conquista imediata. Essa percepção de segurança faz com que muitos não pensem em retornar, mesmo diante de barreiras profissionais.

A experiência migratória oscila entre avanços na vida pessoal e ajustes no campo profissional. Mesmo com as dificuldades, a presença de brasileiros qualificados tem sido essencial para suprir carências do mercado português, sobretudo em áreas como saúde, educação, tecnologia e pesquisa.

Segundo a pesquisa, enquanto o Brasil perde profissionais especializados, Portugal ganha mão de obra jovem e capacitada, contribuindo para o rejuvenescimento da população local.

O trabalho indica também que esse ciclo pode estar longe de terminar. O fortalecimento de redes de apoio, o aumento das migrações familiares, a consolidação de trajetórias acadêmicas e a percepção de uma vida cotidiana mais tranquila em Portugal reforçam a tendência de continuidade do fluxo migratório qualificado do Brasil para o país.

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A tese está disponível para leitura.