(Helinando Oliveira)
Há coisas que se medem e há coisas que se sentem. O coeficiente de rendimento escolar (CRE) na universidade é um número que se mede. Ele é frio e exato. O brilho nos olhos dos estudantes não se mede, mas está ali, estampado, para quem sabe sentir e ler as pessoas.
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Quando os calouros chegam, seu CRE é zero (sem créditos, só esperança). Seus olhos brilham pelo sonho que a engenharia oferece. E vêm as reprovações… Com o tempo, o CRE oscila, muitas vezes caindo. E o brilho no olhar vai sumindo até acabar. Até sumir da universidade. Não, isso não é poesia. O nome disso é evasão: contar com 60 calouros na entrada e formar menos de 6 deles a cada semestre. Onde está o problema?
A resposta mais simples seria dizer que a causa está nas lacunas da formação em Física e Matemática dos estudantes que chegam do ensino médio. Mas o ponto mais importante é que esse é apenas o diagnóstico de partida, e não a justificativa para a evasão. Há que se aproveitar o brilho nos olhos dos calouros e acelerar o nivelamento, para que eles tenham sucesso nas temidas disciplinas de Física, Química e Cálculo. As matérias de pré-cálculo e pré-física são fundamentais para isso.
E mais fundamental que isso, é fazer com que os docentes do ciclo profissional dialoguem com os docentes do ciclo básico. Desconheço a possibilidade de que um bom engenheiro que não utilize Física e Matemática. Talvez possa ser um ótimo trocador de placas… mas, para isso, não precisa de cinco anos de engenharia, convenhamos.
Uma vez que todos entendam que sem brilho não há sucesso, temos que saber cultivar essas esperanças com tudo o que possamos oferecer: bons restaurantes universitários, espaços de convivência, bibliotecas, salas de estudo, livros, programas de monitoria, projetos…
A melhor forma de garantir que um estudante termine o que começou é dar a ele uma pitada do que poderá desfrutar: produzir soluções, engenheirar… A universidade brasileira precisa manter seus estudantes em seus espaços pelo maior tempo possível, ao participar em empresas juniores, desafios de inovação, projetos de iniciação científica… A evasão começa quando o estudante frequenta a universidade única e exclusivamente para assistir às aulas. E engenharia é tudo, menos a formalidade bancária tão contestada por Paulo Freire.
Entendemos que manter o estudante na universidade é fundamental para a concepção de novos saberes, novos olhares e brilhos renovados. É preciso investir mais na qualidade da convivência e na infraestrutura laboratorial, a fim de atrair jovens para os ditos cursos “duros”, que precisam “amolecer” antes de desaparecer.
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Helinando Oliveira é físico, professor titular da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e atualmente é vice presidente da Academia Pernambucana de Ciência









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