Há resultados que devem ser guardados a sete chaves.

Publicar é a melhor opção para o cientista?

(Helinando Oliveira)

Publicar: verbo transitivo direto. Tornar (algo) público, amplamente conhecido; divulgar, propagar, desejo comum de estudantes de graduação e pós-graduação, com o intuito de construir um currículo na ciência.

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Este desejo, quase ambição, é revelado mesmo cedo, ainda na iniciação científica, e precisa ser bem entendido (e controlado). Antes de alimentar a ansiedade produtivista coletiva, é fundamental responder algumas perguntas básicas:

  • O seu resultado é reprodutível e inédito?
  • Há potencial de inovação tecnológica imediata (ou quase) a partir dele?

Se a resposta à primeira questão for “não” é sinal de que o trabalho não está no ponto de ser divulgado (trabalhe mais). Se, ao contrário, a primeira questão for sim e a segunda não, há de se avaliar a publicação a ser feita. No entanto, sendo dois “sim”, a possibilidade de publicação passa a ser um tiro no pé. Eu explico o porquê: ao tornar públicos os seus resultados, você está entregando aos quatro ventos todo o investimento e trabalho que conduziram você até ali, para que qualquer empresa desenvolva o produto e lucre com ele.

Lembre-se das marcas de refrigerantes que mantêm suas fórmulas em segredo absoluto: “O segredo é a alma do negócio”. Muitas vezes, uma não publicação pode significar a semente de uma startup  e a possibilidade de criação de investimentos em capital humano no país, com a consolidação do verdadeiro conceito de soberania nacional, com a produção de conhecimento resultando em geração de produtos tecnológicos.

O encanto do mercado de publicações começa e termina em cessão de direitos de conteúdo e pagamento de altas taxas de publicação. Há de se valorizar mais a propriedade intelectual e a interação de cientistas com a indústria, assim como o investimento privado na ciência nacional. É fato que este diálogo não é simples, mas precisa ser incentivado sempre.

As novas gerações precisam entender o quanto de coletivo há na ciência em detrimento do pensamento produtivista dominante de que produzir mais linhas no currículo Lattes é suficiente para a carreira do cientista. Para as áreas em que a interseção com a inovação tecnológica é tênue, há de se quebrar todas as barreiras possíveis que separem a academia do empreendedorismo e mostrar que os novos doutores podem também ser empresários de suas próprias descobertas.

Há resultados que são publicáveis, outros que são patenteáveis e aqueles que devem ser guardados a sete chaves. Estes últimos são aqueles que garantirão empregos, desenvolvimento e o retorno do investimento público que o Brasil faz em pesquisa ao longo dos anos. Inovar vale a pena. E o segredo é fundamental. Portanto, segure a ânsia de postar seus resultados em redes sociais, publicar a todo custo… Há a hora certa para tudo.

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Helinando Oliveira é físico, professor titular da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e atualmente é vice presidente da Academia Pernambucana de Ciência