Imagem: Montagem com a Biblioteca da Universidade de Pequim e o lançamento do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial 2024-2028 durante a 5ª Conferência Nacional de CTI.

Brasil e China, dois gigantes, dois mundos

(Helinando Oliveira)

A China definiu recentemente buscar autossuficiência tecnológica no período de 2026-2030. Os planos incluem um modelo de desenvolvimento baseado em conhecimento e alta tecnologia, com grande investimento em inteligência artificial. O Brasil, neste sentido, também tem o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA) 2024-2028, lançado durante a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação no ano passado, em que constam investimentos da ordem de 23 bilhões de reais no período para buscar ser a referência mundial no tema.

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Embora ambos os planos sejam ambiciosos e façam brilhar os olhos de todos que fazem ciência, há de se considerar uma comparação entre as universidades brasileiras e chinesas. Sabemos que grande parte da ciência produzida no Brasil se concentra nas universidades públicas federais e que, desde 2011 (e nisso já se vão 14 anos), os investimentos em infraestrutura têm se tornado cada vez mais escassos. A universidade brasileira já viveu crises de investimento memoráveis, como no período de 1995 a 2002, quando o nível de sucateamento era visível até mesmo nos banheiros. Em pleno 2025, vemos universidades federais sem setor de manutenção, com assistência estudantil em processo de desativação, laboratórios com máquinas quebradas, sem ar-condicionado.

Como garantir que os novos campi cresçam sem enfrentar os problemas dos velhos centros? Como impedir o sucateamento de todo o sistema federal, que luta com o pires na mão por emendas parlamentares?

Quem acompanha esta coluna sabe do quanto tenho apoiado a expansão da universidade pelo interior do país. No entanto, cabe uma pergunta para o momento: como garantir que os novos campi cresçam sem enfrentar os problemas dos velhos centros? Como impedir o sucateamento de todo o sistema federal, que luta com o pires na mão por emendas parlamentares?

Este termo é mesmo simbólico: emenda (ato ou efeito de emendar(-se), de retificar falta ou defeito; correção). Este é o ponto que deve separar a execução dos planos das duas nações. Enquanto a China investe solidamente, continuamos a fazer do jeitinho brasileiro, buscando na bancada, fazendo política e postando fotos nas redes sociais, com vistas às próximas eleições. E assim, enquanto a China aparece para o mundo, permaneceremos como promessas: o eterno país do futuro.

O plano de consolidação da ciência no Brasil deve passar por um investimento sólido e que fortaleça a as instituições. Sem infraestrutura não há como fixar docentes nem discentes, pois para criar grandes escolões que fornecem diplomas, o mercado já parece ter se adaptado, vide as promoções de black friday de cursos online.

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Helinando Oliveira é físico, professor titular da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e atualmente é vice presidente da Academia Pernambucana de Ciência