A universidade precisa promover a integração interdisciplinar, aproximando estudantes dos problemas reais da vida. (Foto: Rovena Rosa / Agência Brasil)

Problemas, o foco da ciência

(Helinando Oliveira)

Como todo bom estudante de exatas já percebeu, busca-se a experiência com um maior número de problemas resolvidos. Com um repertório mais amplo de soluções para problemas já conhecidos, espera-se que o estudante adquira experiência com sistemas mais complexos e difíceis (simbolicamente, as questões dos livros passam a ser descritas por meio de exercícios, problemas e desafios). E assim, os estudantes partem a resolver questões e a comparar as suas respostas com as que aparecem no final do livro, como se estivessem escondidas.

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Este aspecto nos leva a entender que pra tudo há uma solução e que alguém detém a resposta, restando a cada um o dom de “abrir as contas”. O que não nos é contado é que os maiores problemas não estão nos livros, pois não são disciplinarizados. Nenhuma área sozinha consegue lidar com essas questões, que permanecem ocultas das salas de aula, disponíveis apenas nos espaços livres dos cantos comuns da vida real.

As disciplinas eletivas ou optativas (como se queira chamar) são remendos do que deveriam ser as reais interações entre áreas distintas (exatas e saúde, exatas e humanas, humanas e saúde). E são assim chamadas justamente por serem disciplinas que uma área oferece a outra. Ora, os problemas reais, quem nos oferece, é a vida… Por mais intrincados e não disciplinarizados que sejam.

Nossos estudantes (futuros mestres e doutores) são desafiados, sozinhos, a enfrentar problemas que outros já resolveram. Isso os leva, implicitamente, a imaginar que a soma deles pode nos ajudar a chegar à solução de outros ainda não resolvidos. A frustração que surge desse processo leva os profissionais de cada área a um encastelamento cujas paredes são levantadas por capas de artigo, com alturas que seguem o fator H e títulos que sugerem distinções cada vez maiores.

O fato é que esta cortina de fumaça (ou arrogância mesmo) impede de fazer pessoas com conhecimentos complementares de conversarem, se entender, assumir que cada um tem limites e que a soma de habilidades pode nos levar a caminhos muito mais promissores.

E a ideia é que tudo isso comece pela universidade, com um processo de extensão decente e descolonizador, que aponte aos nossos estudantes a nossa incapacidade diante de problemas reais. Fazer um estudante de engenharia entender a dor de alguém que sofre por uma doença sem cura humaniza muito mais do que fazê-lo entender de que é só bem-sucedido aquele empreende. Todo cientista precisa ser humano e se fazer gente na sua capacidade de buscar soluções.

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Helinando Oliveira é físico, professor titular da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e atualmente é vice presidente da Academia Pernambucana de Ciência