Dráulio: A ciência é um excelente guia, que nos ajuda a criar e enfrentar desafios. Foi ela que nos salvou da COVID-19. (Foto: Divulgação)

Para o tratamento da depressão e seus efeitos no cérebro

(Mônica Costa)

O professor e neurocientista Dráulio Barros de Araújo, do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), foi o vencedor do Prêmio Finep de Inovação 2024 na região Nordeste, na categoria Complexo Econômico-Industrial da Saúde. A premiação, que é a mais importante do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, foi anunciada em cerimônia realizada no Recife (PE), no dia 17 de novembro.

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Araújo concorreu com o projeto “Um novo protocolo de intervenção clínica à base de N,N-Dimetiltriptamina para o tratamento da depressão e seus efeitos no cérebro”, que busca desenvolver uma terapia antidepressiva de ação rápida, segura e de fácil implementação no Sistema Único de Saúde (SUS). A proposta utiliza a molécula N,N-Dimetiltriptamina (DMT), um psicodélico de ocorrência natural em plantas, animais e no próprio organismo humano, com o objetivo de criar alternativas inovadoras para quadros de depressão resistente ao tratamento, um dos maiores desafios da psiquiatria contemporânea.

Uma pesquisa de quase duas décadas

Em entrevista ao Portal Nossa Ciência, o pesquisador explicou que os estudos com a DMT começaram em 2019, como um desdobramento direto das investigações sobre ayahuasca iniciadas por seu grupo em 2006. A substância é um dos principais componentes ativos tanto da ayahuasca quanto da jurema preta, planta tradicional do Nordeste brasileiro.

“Percebemos que a DMT poderia ser isolada e estudada de forma mais padronizada e com potencial para desenvolvimento clínico”, afirmou. Segundo ele, a motivação foi inteiramente científica: “Não foi uma demanda institucional. Nasceu da nossa própria curiosidade e do compromisso com terapias acessíveis para transtornos mentais graves.”

O grupo que conduz a pesquisa reúne mais de 20 pesquisadores de diferentes áreas, como neurociência, psiquiatria, psicologia, farmácia, química e biologia. Participam pesquisadores de instituições brasileiras como UFRN, UFRJ, UFC, UFOP, USP, UFBA, além das universidades de Maastricht (Holanda) e Coimbra (Portugal).

Da ayahuasca aos psicodélicos clínicos

A trajetória de Araújo no estudo dos psicodélicos em contextos terapêuticos é reconhecida desde 2008, quando recebeu o primeiro lugar na categoria painéis do XXVI Congresso Brasileiro de Psiquiatria. Para ele, o trabalho atual é continuidade direta daqueles primeiros resultados.

O pesquisador também ressalta a importância da ciência para o avanço da sociedade e o risco representado pelo negacionismo. “A ciência é um excelente guia, que nos ajuda a criar e enfrentar desafios. Foi ela que nos salvou da COVID-19”, disse. Ao mesmo tempo, o cientista defende que diferentes formas de conhecimento, como os saberes indígenas, precisam ser valorizadas: “Os povos indígenas possuem sua própria ciência, que é pouco ouvida. O negacionismo simplesmente nega, sem qualquer conhecimento.”

Inovação para fortalecer o SUS

Os professores Draulio Barros de Araújo e Tarciso Velho do ICe-UFRN, na solenidade de anúncio dos vencedores (Foto: Instagram)

A categoria vencida por Araújo premia projetos que fortalecem o Complexo Econômico-Industrial da Saúde, contribuindo para reduzir vulnerabilidades do SUS e ampliar o acesso da população a tecnologias e tratamentos inovadores.

O Prêmio Finep, em sua nova formatação, selecionou 300 projetos de um universo de três mil iniciativas contratadas entre 2023 e 2024. Desses, 144 disputam as etapas regionais, organizadas em oito categorias. Os vencedores agora seguem para a etapa nacional, na qual concorrem com as demais regiões do país.

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Durante o evento, a Finep ressaltou o crescimento expressivo da inovação no Nordeste. Entre 2023 e outubro de 2025, foram contratados quase R$ 3 bilhões para financiar 750 projetos na região, valor quase quatro vezes mais que no período de 2019 a 2022.

O professor Tarciso Velho ficou entre os 24 finalistas.