(Helinando Oliveira)
A classe trabalhadora sempre precisou de muita luta para conquistar qualquer avanço. O décimo terceiro salário, por exemplo, surgiu de uma pauta de 18 reivindicações (isso em 1962). De lá para cá, as elites permaneceram em seu papel de derrubar os direitos dos trabalhadores, seja pela terceirização do trabalho ou mais recentemente pela pejotização. A estratégia é perversa, porque torna o trabalhador uma pessoa jurídica que, para garantir seus rendimentos, passa a abrir mão de todos os seus direitos. É o empresário de si mesmo que não descansa nem no domingo, mas com a convicção de que é o próprio chefe.
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E nesta luta das elites contra o povo trabalhador, a juventude vem assumindo um papel preocupante: com a “mimetização” da figura da CLT, os jovens têm perdido o interesse pelos estudos, pela carreira, por uma possível aposentadoria e por todo e qualquer direito. E a promessa fácil de lucros imediatos com bet, monetização pela internet ou alguma pirâmide da vez torna o esforço da educação ainda menos interessante. Com isso, o discurso de que o “diploma tem cada vez menos relevância” gruda na cabeça de quem não está interessado em dedicar tempo aos estudos.
Ora, diversas são as fontes que mostram que, quanto maior o nível de especialização, maior o salário (a pós-graduação aumenta salário em até 225%). E, de fato, não há o que discutir quanto ao papel da universidade no futuro dos seus profissionais. No entanto, a pergunta que fica é: a quem interessa fomentar o desestímulo dos jovens em relação à Universidade?
A resposta provavelmente está no início do texto: são elas, as elites que viraram o queixo para os direitos dos trabalhadores domésticos, que não admitem ascensão pelos estudos e para os quais o capital financeiro trabalha noite e dia a engordar suas contas bancárias. A elite do último país da América a abolir a escravidão ama a servidão do povo, mesmo que isso custe um abismo de desigualdade social. A sensação de que o Brasil é um país fracassado que tenta ser igual ao primo rico é mais um sintoma de uma elite que não suporta seu próprio povo.
Mas o fato é que a gente não quer só comida. O tempo mostrará ao povo que esta é mais uma estratégia de escravização. Uma nova consciência coletiva há de surgir para mais uma vez ler Mário Quintana: “Todos estes que aí estão, atravancando o meu caminho, eles passarão… Eu passarinho!” fazendo-os lembrar que o voo alçado pela educação é alto demais para ser alcançado por modinhas da hora.
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Helinando Oliveira é físico, professor titular da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e atualmente é vice presidente da Academia Pernambucana de Ciência









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