(Helinando Oliveira)
Lembro que tinha oito anos de idade e que fiquei perplexo com a explosão da Challenger pouco mais de um minuto após o seu lançamento, em 28 de janeiro de 1986. Fiquei também espantado por ver na TV um senhor chegar com um copo e um anel de borracha e mostrar que abaixo de 00 C ocorria uma expansão indesejada que criava fraturas e que seriam, por fim, a explicação da tragédia.
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Não me atentei ao seu nome e nem à sua profissão, mas lembro ter admirado sua inteligência. Eu adorava desenhar e pensava em ser arquiteto, a física não existia em meu horizonte de pensamentos. Passa o tempo e em 2002 estou eu estudando Teoria Quântica Avançada e me deparo com uns hieróglifos estranhos (os famosos diagramas de Feynman) que confesso ter sido a coisa mais difícil que já estudei em toda minha vida. Tal foi a minha surpresa quando associei a obra com a imagem de minha infância daquele senhor mergulhando o anel de borracha dentro do copinho com gelo. Era ele, Richard Feynman (1918–1988), um cientista que passei a admirar e estudar, colocando-o no ponto mais alto de minha lista dos três mestres da física, na sequência exata: Feynman, Maxwell e Einstein. Newton fica em quatro, apesar do cálculo… Este podium é pesadíssimo.
Voltando ao brilhante Feynman… Algo que me deixava assustado na mecânica quântica era o tratamento totalmente fora do comum que ele dava aos problemas. Ele parecia ter vindo de outro planeta, mesmo sendo tão terráqueo. Ele pensava ciência tocando bongôs e curtindo o que a vida tinha de melhor, sem a sisudez da academia ou a arrogância de um vencedor de Nobel (que ele conquistou em 1965 por sua teoria revolucionária sobre a Eletrodinâmica Quântica). Os sinais que me levaram à resposta para o brilhantismo do nosso querido Feynman chegaram pelo livro Está a Brincar, Sr. Feynman! que é uma biografia divertidíssima de um cientista que já nasceu assim. Ainda jovem, ele consertava rádios e ganhava sua graninha. Montava aparatos incríveis usando tão somente o poder da inteligência. E o mais interessante: ele criava a sua própria representação de variáveis e grandezas, mesmo que depois ele tenha de ter usado a mesma convenção do mundo acadêmico para que pudesse se comunicar com professores e estudantes.
E este é o ponto exato que quero explorar: para entrar no sistema educacional (escola e universidade) e permanecer academicamente nele é necessário estar moldado a uma série de regras e normativas. Isso também ceifa um tanto de criatividade de nossos estudantes. Não é à toa que ainda são chamados de disciplinas, grade curricular, exame escolar… Nossas escolas parecem grandes presídios impondo regras a crianças que querem brincar…. Mas Feynman ia muito além disso… Ele tinha a sua representação de mundo que não dependia da representação imposta pela academia. E de repente, ele brilhantemente expõe para o mundo a sua eletrodinâmica quântica, com seus próprios códigos e com uma paternidade digna de quem prova o que diz (o lance do o-ring no copinho). Se Maxwell corrigiu Ampère usando o exemplo de um capacitor de placas paralelas e a sua linda superfície bojuda, Feynman deu luz a um ser totalmente novo e que não foi pensado por ninguém. Brilhante! Fruto de sua habilidade de viver dentro de uma caixa mesmo não estando dentro a ela, em uma versão moderna do gato de Schrödinger.
Para quem curtiu o artigo sobre Feynman, deixo a sugestão de matéria passada em que citamos a passagem de Feynman pelo Brasil e seu contato com nossos estudantes de engenharia.
E se o interesse aumentar e a te chamar a física estiver (tal qual o mestre Yoda em Star Wars) caia de cabeça nesse site
Ofereço este texto a meu filho Fernando Alves, medalhista da Olimpíada Brasileira de Física.
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Helinando Oliveira é físico, professor titular da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e atualmente é vice presidente da Academia Pernambucana de Ciência









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