A ciência é uma construção coletiva, e, individualmente, não se consegue abordar nenhum dos grandes problemas (Foto: Agência UFC)

Como conversar com o povo sobre ciência?

(Helinando Oliveira)

Há, na cabeça de muitos cientistas, um bloqueio quanto à atividade de divulgar a ciência, que, muitas vezes, quando realizada, não se caracteriza como uma comunicação eficiente ou mesmo atraente para o leitor.

Alguns cientistas entendem que a comunicação com o povo (chamado por alguns de público leigo) é desnecessária, enquanto, para outros, ela se resume a um print da primeira página do artigo (título e nome dos autores) nas redes sociais.

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Depois de mais de 300 semanas tentando capturar a atenção dos leitores do portal Nossa Ciência e aplicando estratégias das mais diversas, poderíamos enumerar algumas perguntas críticas para cientistas colocados na posição de público leitor:

  • O que me motiva a ler um texto qualquer (diagramação, título, figuras)?
  • O problema apresentado no título afeta a minha vida?
  • Que expectativa aquele texto (ou o seu título) gera sobre a minha forma de ver o mundo? Se o leitor tiver dúvidas sobre isso, é fato que os dedos nervosos já o levarão para outra tela.

Essas três questões já nos levam a descartar o print da capa do artigo como ferramenta de divulgação. Poderíamos ainda dizer que a simples tradução do artigo não atrairia a atenção do público geral. Afinal, o artigo é o recorte do recorte de algo maior (a linha de pesquisa), que aborda aspectos de algo ainda mais amplo e inacessível.

Todavia, esse algo complexo e difícil pode interessar profundamente à vida das pessoas. Exemplos desse universo amplo e intrincado, que precisa ser fatiado pela ciência para ser compreendido e enfrentado, podem ser: saúde única, fome, distribuição de renda, catástrofes, entre outros.

E, neste ponto, é preciso lembrar que a ciência é uma construção coletiva e que, individualmente, não conseguimos abordar nenhum desses grandes problemas. Assim, é necessário divulgar a coletividade — não apenas o achado de um artigo, mas sim o de centenas deles.

Essa visão, que foge do micro e flerta com o macro da ciência, depende de uma boa dose de conhecimento da história da ciência. É uma extrapolação do “subir nos ombros de gigantes” e entender um pouco mais de suas dores e sonhos.

Enfim, divulgar ciência é saber contar mais sobre os outros do que sobre si mesmo, pois cada cientista é um mero grão de areia numa pequena praia de conhecimento, circundada por um oceano de perguntas sem resposta.

E, quando se lê e se consegue coletar os “Easter eggs” espalhados no texto, plantam-se curiosidades que semeiam gerações futuras de cientistas — os quais não deixam o mar avançar e tomar a nossa prainha de conhecimento.

Divulgar ciência é espalhar sementes de curiosidade para as gerações futuras.

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Helinando Oliveira é físico, professor titular da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e atualmente é vice presidente da Academia Pernambucana de Ciência