(Helinando Oliveira)
Entre os meses de setembro e outubro há um aumento considerável de visitas de escolas aos laboratórios da universidade, motivadas pela busca dos estudantes do terceiro ano nas vésperas do ENEM. Nestas visitas, fica evidente o choque de expectativas e realidade dos jovens quanto ao que é a rotina da atividade de pesquisa.
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Há um encanto de que no ambiente de laboratório deve surgir a qualquer momento uma grande descoberta, com cientistas em êxtase gritando “Eureca” pelos corredores. Este é o arquétipo alimentado pela imagem de Einstein descabelado com a língua de fora.
Todavia, ao contrário de tudo isso, o trabalho em sua rotina reflete uma dinâmica de muita repetição e resiliência. Entender o comportamento das coisas e encaixar a natureza à luz de nossos modelos limitados é uma tarefa extremamente complexa, e por muitas vezes aquilo que se espera termina por não ser observado nos experimentos.
E a famosa expressão “deu errado” é mais comum do que se imagina no ambiente laboratorial, sendo o “erro” por vezes algo que não se consegue explicar… Afinal, a maçã nunca estudou física 1 para aprender como cair seguindo as leis de Newton. Ela simplesmente cai, embora estejamos convictos de que ela segue sob ação da gravidade como previsto por ele. Isso não significa, no entanto, que esta seja a única explicação, o único modelo.
E assim a ciência avança, melhorando seus modelos que buscam entender a natureza pelo trabalho persistente de gente anônima, ao buscar pistas daquilo que lhes é permitido. Por mais que o ambiente de pesquisa seja recheado de buscas por homenagens e reconhecimento, é no anonimato que melhor trabalham os cientistas. Como o próprio Newton dissera:
“Se consegui ver mais longe é porque estava aos ombros de gigantes”. Como podemos ver, mesmo gigantes, estes permanecem anônimos.
Com isso, a qualidade básica de todo e qualquer cientista deve ser a sua capacidade de não desistir da sua busca, mesmo que esteja mergulhado em um mar de indefinições à medida em que repete seus experimentos.
O desafio de quem faz ciência é ser bem mais Thomas Edison que qualquer outro tipo de personalidade. Como se sabe, Edison perseverou ao limite para tornar viável o conceito da lâmpada. Como ele mesmo disse: “Eu não falhei 1000 vezes. Apenas descobri 1000 maneiras que não funcionam.”
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Helinando Oliveira é físico, professor titular da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e atualmente é vice presidente da Academia Pernambucana de Ciência









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