É necessário remediar e reverter o desinteresse dos jovens pela pós-graduação brasileira. (Foto: Agência UFC)

O aumento no desinteresse na pós-graduação brasileira

(Helinando Oliveira)

Há uma constatação de que nos últimos anos vem se consolidando um crescente desinteresse pela pós-graduação brasileira. Este processo, em não se revertendo, afetará profundamente a produção científica brasileira.

As causas deste processo possivelmente estão distribuídas entre as sequelas da pandemia, o negacionismo, as perdas acumuladas no valor da bolsa pela inflação e a própria evasão dos cursos de graduação. Podemos ainda lançar a hipótese de que investimentos de longo prazo (como a formação em níveis de mestrado e doutorado) vêm se tornando menos atrativos para as novas gerações que buscam soluções rápidas para consolidar sua vida profissional e financeira.

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Entendidas as possíveis causas do processo, urge o estabelecimento de estratégias para remediar e reverter esta tendência. Este processo passa por estratégias de curto, médio e longo prazo. De imediato, uma ação já vem sendo tomada, quando se tem o reajuste das bolsas de mestrado e doutorado, para que sejam minimamente atrativas aos profissionais que têm escolhido os salários oferecidos pelo mercado em detrimento ao trabalho nos programas acadêmicos.

Também é urgente a recomposição de orçamento das universidades públicas que vêm passando por situação crítica de financiamento. Sem laboratório não há como desenvolver pesquisa por mais boa vontade que se possa ter.

Em médio prazo, para diversificar o público, a aproximação com os centros de pesquisa e com a indústria é fundamental para garantir que a universidade acelere o processo de transposição do conhecimento para a sociedade, o que fortalece o crescimento dos programas na modalidade profissional. Em regiões com baixos índices de industrialização, o setor demandante pode ser o próprio poder público, na definição de estratégias claras para o enfrentamento de problemas locais.

Em longo prazo, avaliar ações de extensão como sendo cruciais para a capilarização da pós-graduação é fundamental assim como estratégias massivas de divulgação, adentrando nas mídias sociais, o que é fundamental para permitir que a universidade volte a falar a língua dos jovens, atraindo-os para um ambiente que seja menos sisudo e mais inclusivo.

É fato que vivemos um momento complexo, em que a universidade mudou pelo panorama forçado pela pandemia e mais recentemente pelo impacto profundo da inteligência artificial. Não há mais como tratar o mundo como era antes de 2020. Todos precisam se reinventar, incluindo a pós-graduação.

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Helinando Oliveira é físico, professor titular da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e atualmente é vice presidente da Academia Pernambucana de Ciência