(Mônica Costa)
A Universidade Federal do Ceará (UFC) é a primeira do Nordeste a repudiar o genocídio e a violação das normas internacionais pelo Estado de Israel, cancelar acordo de cooperação e prestar solidariedade com o povo palestino. Em documento público, o Conselho Universitário (Consuni), instância maior da Universidade, repudiou “veementemente o genocídio em curso, solidariza-se com o Povo Palestino que resiste às agressões, cancela o Acordo para Programa de Intercâmbio e Cooperação Acadêmica com a Universidade Ben-Gurion.”
“Pelo menos na minha opinião, a gente já devia ter assumido essa posição há algum tempo”. A afirmação é do professor Ivânio Lopes de Azevedo Júnior, diretor do Instituto de Cultura e Arte da Universidade Federal do Ceará (ICA/UFC), em entrevista para o Portal Nossa Ciência. Ele assegurou que a decisão não teve resistência frontal dos membros do Conselho. A proposta foi apresentada por representantes do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFC, tendo sido aprovada com oito abstenções.
Flotilha Global Sumud
O documento final aprovado pelo Consuni incluiu também manifestação de solidariedade à deputada federal Luizianne Lins (PT), professora licenciada do curso de Jornalismo da UFC, detida pelo exército de Israel junto a outros ativistas participantes da missão humanitária Flotilha Global Sumud – que tinha como objetivo quebrar o bloqueio marítimo imposto pelo exército israelense à Faixa de Gaza, levando alimentos e medicamentos.
Para o diretor do ICA/UFC, a prisão da deputada, a quem ele chama de professora, teve alguma influência na decisão. Ele pontuou que ter uma professora do ICA, como é o caso de Luizianne Lins, entre os capturados que estavam tentando levar ajuda humanitária ao povo palestino aproxime ainda mais a crise da comunidade da UFC. “Faz com que essa realidade, esse absurdo que é o genocídio cometido pelo Estado de Israel, se aproxime ainda mais de nós. De alguma forma, atualiza a urgência da posição que a universidade deve tomar, e ainda bem que tomou de maneira muito clara”, defende.
Antes da moção agora aprovada, o ICA já havia publicado uma nota de solidariedade à deputada.
Na condição de instituição de grande relevância acadêmica, a UFC pode ter a sua atitude replicada em outras universidades nordestinas. Essa é a opinião e o desejo de Ivânio Azevedo. “Espero que essa posição da UFC contamine as demais instituições a se posicionarem claramente contra o genocídio causado e capitaneado pelo Estado de Israel”, declarou.
Acordo de cooperação
Firmado em 2022, após a participação da UFC em uma missão internacional em Israel, o Acordo para Programa de Intercâmbio e Cooperação Acadêmica com a Universidade Ben-Gurion chegou a ter como desdobramento um desafio de inovação (2º Innovation Challenge Brasil-Israel), mas cujo edital foi cancelado pela UFC pouco tempo após seu lançamento, em 2023, por pressão dos estudantes da universidade. Desde então, não houve novas iniciativas derivadas da parceria.
Embora reconheça que não se deve confundir o governo com o povo e nem com as instituições israelenses, o professor Azevedo acredita que a suspensão do Acordo para Programa de Intercâmbio e Cooperação Acadêmica com a Universidade Ben-Gurion, de Israel, é uma forma das próprias instituições pressionarem o seu governo. “Em termos práticos, a UFC suspende todo e qualquer contato institucional e oficial, no que diz respeito ao intercâmbio de pesquisa com instituições israelenses. E a gente espera que, com isso, aumente a pressão contra o governo de Israel”, explica.
Antes da UFC, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Universidade Federal Fluminense (UFF) já haviam tomado decisão semelhante.