Pé de Mulungu (Foto: Karina Cavallieri / UFU)

Moda, grife e ciência

(Helinando Oliveira)

As grifes, com suas marcas exclusivas, ditam tendências e guiam o mundo da moda por caminhos que as pessoas costumam seguir. Remar contra uma tendência requer energia e uma boa dose de autoconfiança. É como usar suspensórios para ir à praia, por exemplo. Esta matéria, no entanto, não tem a intenção de falar de roupas, e sim de ciência.

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As universidades são ranqueadas de acordo com métricas de ensino, extensão e pesquisa e, evidentemente, as mais bem qualificadas são as mais procuradas e despontam com um “glamour” especial para quem pretende ostentar sua marca nos diplomas. As vantagens são evidentes pela melhor infraestrutura laboratorial e pelo pessoal qualificado, porém questões financeiras tendem a limitar o acesso a estas superinstituições. Outro fator crítico é a concentração de conhecimento em regiões específicas do planeta. Para beber do conhecimento, se faz necessário um verdadeiro êxodo de cérebros para alguns centros, que por seu privilégio, passam a ditar a moda, ou seja, aquilo que de fato se deve estudar.

No entanto, cada nação, cada território têm os seus próprios problemas e devem formar os seus cientistas para resolvê-los. É neste ponto que deve ser depositada muita resiliência em todos aqueles que apostam em jovens instituições de pesquisa.

Sem ranking, sem status, sem infraestrutura e com todas as dificuldades do mundo, estes centros surgem com uma tendência natural a remar contra a maré. Sem nenhuma garantia de sucesso, jovens pesquisadores de centros consolidados fazem o papel de aventureiros (verdadeiros exploradores) para levar o seu ideal a um lugar onde não tivera oportunidade de desfrutar de um centro de pesquisa, como se fosse algo tão conceitual quanto plantar um baobá, que dá seus primeiros frutos após décadas.

Saí de Recife há 21 anos e vim plantar o sonho de fazer ciência no Vale do São Francisco. Nesta última sexta, durante um evento de iniciação científica vi um estudante de São Raimundo Nonato apresentando resultados de difração de raios-X feitos em nosso instituto de pesquisa. Não tivemos como conversar, mas o simples fato ver aquelas curvas me fez acreditar que mesmo sem grife e vestido de suspensório no meio do sertão, as raízes do grande mulunguzeiro que plantamos já chega na Serra da Capivara, como parte de uma transformação silenciosa que acontece por debaixo do chão, para estourar em todo o canto, com a capacidade de transformação que só o conhecimento oferece.

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Helinando Oliveira é físico, professor titular da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e atualmente é vice presidente da Academia Pernambucana de Ciência