Atire a primeira pedra quem, em algum momentinho do dia ou da semana, ao afundar no feed das suas redes sociais, em rolagens vertiginosas, não deu de cara com algum conteúdo de teor odioso, odiento, odiável! Essa realidade na vida de milhões de pessoas fez circular amplamente, na boca do povo e nos toques das teclas, a expressão vocabular do ano de 2025 de acordo com o Dicionário de Oxford: “rage bait”, isto é, “isca de raiva”.
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Por sugestão da nossa querida editora Mônica Costa, fui procurar saber mais a respeito. Segundo a revista CartaCapital, o termo se refere a “conteúdo online deliberadamente criado para provocar raiva ou indignação, sendo frustrante, provocativo ou ofensivo, geralmente publicado para aumentar o tráfego ou o engajamento com uma página online ou conteúdo de rede social”.
Usos reais da língua viva
A palavra foi eleita pela tradicional votação promovida pelo Dicionário Oxford, da Oxford University Press, departamento da secular instituição (remonta ao século XV). A consulta à população em geral sobre palavras e seus significados faz parte da história do prestigiado Dicionário (ver, por exemplo, “O dicionário das palavras perdidas”, romance de Pip Williams), interessado em registrar os usos reais da língua viva. Neste ano, após três dias de votação pública, mais de 30 mil pessoas elegeram “rage bait” como a palavra do ano em língua inglesa, cujos usos teriam triplicado nos últimos 12 meses de acordo com o Dicionário.
Os “rage bait”, conteúdos criados propositalmente para despertar sentimentos de raiva e rancor e gerar reação e engajamento das pessoas online, não escolhem raça, partido político ou credo religioso. Não têm preferência por idade, orientação sexual ou estilo. Qualquer um pode ser alvo da “psicopolítica” engendrada por meio dessas iscas, cujo propósito é promover nossa auto exposição e permanência contínua nos ambientes digitais, além de promover, inegavelmente, discursos de ódio e polarização.
Não morder a isca
Mas nem tudo está perdido e não necessariamente seremos peixinhos tão vulneráveis assim. Ainda segundo a CartaCapital, o presidente da Oxford Languages, Casper Grathwohl, afirma que “o fato de o termo rage bait existir e ter tido um aumento tão drástico no uso significa que estamos cada vez mais conscientes das táticas de manipulação nas quais podemos ser atraídos online”.
O cotidiano digital é a realidade de milhões de pessoas no mundo. No ano de 2024, como sintoma real e tangível, a expressão que mais circulou, segundo o mesmo Dicionário de Oxford, foi “brain rot”, isto é, algo como “cérebro apodrecido”, expressão que remete à “suposta deterioração do estado mental ou intelectual de uma pessoa, especialmente vista como resultado do consumo excessivo de material (principalmente conteúdo online) considerado trivial ou pouco desafiador”. A quem e por que interessa nos apodrecer? Neste ano de 2025, precisamos continuar questionando essas formas de psicopoder e nos engajar em tentar compreender a quem e por que interessa nos fisgar com essas “iscas de raiva”.
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Cellina Muniz é escritora e professora do Departamento de Letras e do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.










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