Novos tempos, novo mindset

Há algum tempo atrás falei sobre desemprego em Acorde Neo… Saia da Matrix. Não há mais empregos!. Na semana anterior a este artigo, havia proposto uma solução em Bootcamp: aprendizagem intensiva, acelerada e verdadeira em campo .

Entretanto, só agora percebi uma coisa: a solução (bootcamp) não se encaixará ao problema (desemprego) se não houver um trabalho árduo por parte de mentores (incluo aqui centros de capacitação, orientação, mamãe & papai corporation etc.) para que se mude o mindset, próprio e dos pupilos. Mindset é uma forma chic, em inglês, de juntar inércia psicológica e pré-conceitos (no sentido de ideias pré-concebidas, predisposição) em uma palavra só. Isto poderia ser usado em nossa língua pátria como pensamento por analogia, o velho “Maria vai com as outras” ou “João vai com os outros”! Bom, vou manter “mindset” para não parecer retrógrado.

Neste artigo, apresentarei minha visão daquilo que acho que deveríamos abandonar na Escola 1.0, aquela centrada no professor, passar pela Escola 2.0, que é dirigida ao aluno, e ir direto à Escola 3.0, totalmente centrada no mundo!

E o grau de prioridade que atribuo a estes conceitos é máximo: “mude ou morra!”, falando do ponto de vista empreendedor, é claro.

O mindset trivial – Linear 

Vejamos esses axiomas em ordem temporal crescente:  

#1. “Menino: estude para ser dotô!”. 

#2. “Homi, estude para passar naquele concurso!”.

#3. “Acho que naquela empresa tem emprego…”.

#4. “Estou desempregado há seis meses…”.

Já ouviram isso? Observem que estes quatro itens são focados em um único ponto: uma vaga pré-existente! Seja em uma faculdade (#1), em uma estatal (#2), em uma empresa (#3) ou uma ex-vaga (#4). Nesse último caso, por corte de RH (vão dizer que foi realinhamento estratégico devido do Mercado), por substituição (alguém mais competente, atualizado ou de menor custo) ou por ela, a famigerada IA.

Você poderá culpar qualquer elemento externo a você mesmo, mas não foi por falta de aviso: até quando você vai continuar mentindo pra você, adquirindo unicamente os mesmos conhecimentos e habilidades dos outros – as conhecidas hard skills – para, com isso, disputar as mesmas e exíguas vagas?

Viu? Isso é o que eu chamo de Mindset Trivial. Foco único, meta única, pensamento único. Tem um ditado que diz: “Quem tem ideia fixa é doido”! Resultado: frustração e desemprego. 

O inevitável, e previsível, fim linear!

Esse tempo já foi, pessoal. Vamos à outra forma!

O Mindset Design Thinking – Pulsátil, não-linear

Observando este movimento trivial no qual já se sabe onde se vai chegar, a galera da IDEO, empresa de impacto no tocante a design no mundo, além de várias coisas, criou e consolidou o método do Design Thinking, “abordagem prática-criativa que visa a resolução de problemáticas em diversas áreas empresariais, principalmente no desenvolvimento de produtos e serviços, agindo com base na coletividade colaborativa do desenvolvimento dos projetos”. E o mais fantástico disso tudo: é uma abordagem que permite olhar para a “ponta” antes de se aventurar. Você foca na entrega e “vem de revestrés”!

As etapas são assim descritas: descoberta, momento em que seu cérebro deve criar sem barreiras, portanto divergir. Depois vem a seleção das coisas, ou definição, quando você deverá abandonar aquilo que realmente não faz sentido, num movimento de convergência. Feito isso, vamos desenvolver as ideias filtradas, etapa em que você vai utilizar várias ferramentas ou protótipos para experimentar e definir as melhores e, por fim, a entrega, quando você converge para o resultado inicialmente definido. Vou chamar essa disposição de pensar de forma pulsátil de soft skills.

Double Diamond ou 2D: pulsátil!

Por que eu falei na estratégia 2D, ou Double Diamond, e o que isto tem a ver com o mindset, emprego, mudanças etc? É porque esta proposta foi a que transformou a IDEO na maior empresa de novos conceitos no mundo, algo a se aprender então. Vamos relacionar o 2D com o mindset necessário aos novos tempos.

O mundo como cliente

No limite, eu acredito que o mundo será um lugar justo quando as palavras “Sociedade” e “Mercado” forem utilizadas como sinônimos. É o máximo de inclusão que atingiremos. Ou seja: todos com acesso a tudo.

Para se chegar próximo a esta utopia, não se pode agir linearmente. Temos que atuar de forma pulsátil, mirando na entrega, partindo do fim. Os cursos de formação devem manter o fundamental e acrescentar habilidades que “colem” às pessoas à realidade.

Sendo assim, qual deveria ser o foco então, GBB-San? A resposta é simples. Inspirado no 2D, não podemos pensar “para qual vaga eu deveria me submeter” mas sim, “qual problema eu deveria resolver”, tendo o mundo como cliente.

Os empregos não seriam mais o foco, mas o trabalho em si. E pela quantidade de bronca que temos para resolver, todos estaríamos ocupados, úteis.

O Novo Mindset: Centrado no Mundo

Finalizando…

Quem começar a ver o mundo a partir da lente 2D, o Double Diamond, começará a aumentar suas chances de sucesso. Divirja e convirja sobre suas habilidades. Será que se eu falar em inglês o pessoal leva a sério? Então lá vai o nome para uma nova metodologia: change or die!

Referência:

IDEO

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Gláucio Brandão é gerente executivo da inPACTA, incubadora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.