E chegamos ao fim de mais um ano, o que pede uma boa retrospectiva. Eu gostaria de lhe convidar a seguir comigo em uma breve análise da política científica em nosso país em 2025, pelos olhos de quem está no chão de fábrica, ou seja, nas bancadas do laboratório. A primeira pergunta difícil de responder é se, de fato, este foi um ano bom ou ruim para quem faz ciência.
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A resposta pode ser a mesma da metáfora do copo meio cheio e meio vazio: embora o foco do otimista no que de cheio está no copo contraste com o do pessimista e a sua visão (do quanto de vazio se tem), para ambos os observadores há de existir um consenso de que a situação é bem melhor do que no horizonte negacionista de poucos anos atrás em que até o próprio copo vazio era jogado na parede para provar de sua própria existência.
Dificuldades à vista
Vamos partir pelo lado vazio do copo: o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2026 prevê redução dos recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para a concessão de bolsas, enquanto quase 1/3 dos recursos para a manutenção de laboratórios foi cortado. O mesmo quadro, sem a correção da inflação nas bolsas, é observado do lado do Ministério da Educação e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), revelando que ainda não saímos do quadro de estagnação dos investimentos. A ABC e SBPC emitiram importante alerta sobre o tema no último dia 15 de dezembro.
Outro elemento que não pode ser deixado de lado nesta análise do copo vazio é o sucateamento das universidades federais. Quando uma nova universidade é criada ou um campus é inaugurado, é crítico entender que se trata de um centro que demandará recursos para ensino, pesquisa e extensão. E o orçamento precisa crescer. E isso deveria ser óbvio para o Congresso Nacional, por exemplo. Um país que deseja ser grande não pode cortar recursos à educação, por pior que seja a crise.
A notícia boa
Por outro lado, o do copo cheio: houve crescimento nominal de 12,65% no orçamento do MCTI para o ano de 2026, os acordos transformativos da CAPES permitirão publicação de livre acesso na Springer Nature e Elsevier além da American Chemical Society (em vigência). Este acordo permite que os autores tenham dispensa no pagamento das taxas de publicação em revistas importantes pelo mundo (taxas pagas pela CAPES). Para entender a importância desta ação na divulgação dos trabalhos brasileiros pelo mundo, basta uma olhada no crescimento abrupto das contribuições brasileiras, por exemplo, na revista ACS Omega.
Estes aspectos mostram que o Brasil (Colosso do Sul, como definido por Noam Chomsky) tem potencial para revolucionar os modos de produção no mundo, como expresso na COP30 na Amazônia, o que indica que a remediação ambiental deve preceder qualquer anseio consumista, fazendo prevalecer a economia circular. Para tanto, precisamos declarar nossa independência de todas as naturezas em relação a qualquer modelo e acreditar em nossa capacidade de estabelecer soluções para um planeta febril, que já ligou seu modo de proteção contra o seu maior predador: o ser humano. E a saída é simples, com uma ciência viva e pulsante.
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Qual era o sentimento do professor Helinando Oliveira ao final de 2024? Releia o artigo que ele escreveu naquele período: Avaliando 2024
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Helinando Oliveira é físico, professor titular da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e atualmente é vice presidente da Academia Pernambucana de Ciência










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